Amnistia Internacional mantém relatório criticado por Kiev
A Amnistia Internacional (AI) afirmou hoje assumir totalmente o seu relatório que acusa o exército ucraniano de pôr em perigo a vida de civis na sua resistência à invasão russa, ao instalar infraestruturas militares em zonas residenciais.
Kiev reagiu violentamente a este relatório e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky chegou a acusar a Organização não-governamental (ONG) de direitos humanos de "tentar amnistiar o Estado terrorista" russo, numa reação à publicação do relatório na quinta-feira.
"Mantemos plenamente as nossas conclusões", declarou Agnès Callamard, secretária-geral da AI, numa mensagem dirigida à agência noticiosa AFP.
A mesma responsável sublinhou que as conclusões estão "assentes em provas obtidas durante investigações de grande amplitude submetidas às mesmas normas rigorosas e processos de verificação que caracterizam o trabalho da Amnistia Internacional".
Agnès Callamard também lamentou a reação das autoridades ucranianas "que se arrisca a paralisar uma discussão legítima e importante destas questões" sobre a proteção de civis, precisando que o Governo de Kiev não respondeu a um pedido de reação ou de comentário antes da publicação do relatório.
A ONG "indicou claramente que as práticas militares ucranianas" descritas no seu relatório, incluindo a instalação de infraestruturas militares em escolas e hospitais, "não justificam em nada as violações sistemáticas do direito internacional pela Rússia", recordou a secretária-geral.
"Ignorar as violações cometidas por uma parte privilegiada em relação a outra não devem constituir uma forma de abordar a questão dos direitos humanos", argumentou Agnès Callamard.
Na sua declaração vídeo diária emitida na noite de quinta-feira, Zelensky considerou que o relatório da AI "coloca de uma certa maneira a vítima e o agressor em pé de igualdade".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 17 milhões de pessoas de suas casas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de dez milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A ONU confirmou que 5.327 civis morreram e 7.257 ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais deverão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.