Amnistia conclui que forças de Kiev também puseram civis em perigo
A Amnistia Internacional alertou hoje que as forças ucranianas põem em perigo a população civil quando estabelecem bases militares em zonas residenciais e lançam ataques a partir de áreas habitadas por civis.
Num comunicado divulgado hoje, a organização de direitos humanos ressalva que esta atuação não justifica de modo algum os ataques indiscriminados da Rússia, que mataram mais de cinco mil civis, de acordo com as Nações Unidas.
As forças ucranianas põem civis em perigo quando montam bases e operam sistemas de armas "em zonas habitadas por civis, incluindo em escolas e hospitais, para repelir a invasão russa que começou em fevereiro", considera.
Estas táticas violam o direito internacional e tornam zonas civis em objetivos militares contra os quais os russos retaliam. O resultado é a morte de civis e a destruição das infraestruturas.
"Estar numa posição defensiva não isenta as forças armadas ucranianas de respeitar o direito internacional humanitário", afirmou a secretária geral da Amnistia, Agnès Callamard.
Na sua investigação sobre alegados crimes de guerra cometidos pela Rússia, o grupo concluiu que aconteceram em algumas zonas de Kharkiv, mas descobriu também que as forças ucranianas lançavam ataques a partir de zonas residenciais habitadas e tinham ocupado edifícios civis em 19 cidades e localidades nas regiões de Kharkiv, Mikolayv e Donbas.
Entre abril e julho, a Amnistia Internacional entrevistou sobreviventes, testemunhas destes ataques e analisou imagens recolhidas por satélites para avaliar as acusações.
Nos casos que documentou, não concluiu que os militares ucranianos instalados em infraestruturas civis tenham pedido aos cidadãos que evacuassem os edifícios em volta.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 17 milhões de pessoas de suas casas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de dez milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
A ONU confirmou que 5.327 civis morreram e 7.257 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 160.º dia, sublinhando que os números reais deverão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.