Mundo

Irão pede "garantias mais sólidas" para reativar acordo e revê contraproposta de EUA

None
Foto DR

O Irão indicou hoje que, após receber a contraproposta dos Estados Unidos, está a analisá-la "com o devido cuidado e rapidez", mas precisa de "garantias mais sólidas" de Washington para reativar o acordo nuclear de 2015.

"Nós levamos a sério a chegada a um acordo bom, forte e estável. Um dos temas que foram tidos em consideração no nosso diálogo com as partes negociais, mas que devemos fortalecer no texto, é que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) deve distanciar-se do seu [atual] comportamento", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdolahian.

Nesse sentido, o responsável explicou que o organismo de monitorização nuclear da ONU "deve concentrar-se apenas nos seus deveres e responsabilidades", pelo que Teerão não permitirá que "nenhuma parte" interfira na esfera de independência do Irão, noticiou a agência Mehr.

Numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, o MNE iraniano referiu-se assim às investigações da AIEA sobre os vestígios de urânio enriquecido encontrados em três locais não-declarados.

Segundo Amirabdolahian, a AIEA deverá sobretudo "distanciar-se de condutas políticas e cumprir de forma profissional as suas funções técnicas".

No domingo, foi divulgado que o acordo poderia dividir-se em quatro fases "para cimentar a confiança entre as partes" e entraria plenamente em vigor 165 dias após a sua assinatura.

O Irão libertaria vários presos e regressaria aos termos do pacto em troca da manutenção do seu atual 'stock' de urânio e do levantamento das sanções, ao passo que a Guarda Revolucionária iraniana continuaria na lista das organizações terroristas.

Esta versão do texto poderá alterar o acordo final, já que o Irão está presentemente a rever a resposta enviada pelos Estados Unidos a um texto de acordo inicial apresentado pela União Europeia, cujo conteúdo foi parcialmente divulgado pelo diário israelita Haaretz.

Embora não seja ainda conhecida uma data exata, o Irão poderá dar a sua opinião sobre a revisão norte-americana no início de setembro, indicou no domingo o jornal digital iraniano Nour News, alinhado com o Conselho Supremo de Segurança Nacional (SNSC) do Irão.

As potências mundiais passaram quase 18 meses a tentar negociar um acordo que restabelecesse limites rígidos à atividade nuclear do Irão, em troca de os Estados Unidos aliviarem algumas das sanções à economia da república persa, entre as quais a imposta às suas exportações de petróleo.

O Irão está há 16 meses em negociações com a Alemanha, França, Reino Unido, Rússia, China e, de forma indireta, com os Estados Unidos -- os signatários do pacto original -, para salvar o acordo nuclear de 2015, que limitava o programa nuclear iraniano a fins civis como contrapartida para o levantamento de sanções económicas e que foi unilateralmente abandonado em 2018 pelo então Presidente norte-americano, Donald Trump, que reimpôs as sanções ao Irão, fazendo com que este deixasse também gradualmente de cumprir os compromissos assumidos.

A União Europeia apresentou um "texto final" na última ronda de negociações em Viena em princípios deste mês. O Irão enviou a 16 de agosto as suas considerações sobre o texto à UE, que funciona como intermediária entre Teerão e Washington, e o Governo norte-americano respondeu na passada quarta-feira às suas exigências.

O Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, mostrou-se hoje esperançoso na obtenção da renovação do acordo nuclear iraniano "nos próximos dias", depois de receber comentários "muito razoáveis" ao texto apresentado por ele, pelos Estados Unidos e pelo Irão.

"Há compreensão mútua e toda a gente sabe o que tem que fazer", disse o chefe da diplomacia europeia numa conferência de imprensa no final de um conselho informal de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE em Praga.

Por isso, o político espanhol afirmou esperar que "nos próximos dias não se perca esta dinâmica e se possa concluir [um acordo], tendo em conta, claro, os comentários feitos tanto pelos Estados Unidos como pelo Irão ao texto apresentado".

Neste momento, disse que está a partilhar o texto "para tentar concluir um acordo".

"Recebi comentários da parte dos Estados Unidos e do Irão. Creio que os comentários são muito razoáveis e o caminho a seguir é bastante claro", afirmou, ao ser questionado sobre o ponto das negociações, que a equipa de Borrell coordena desde há 16 meses em nome da UE.