Inspectores da ONU estão a caminho da central nuclear de Zaporijia
Os peritos internacionais que vão inspecionar a central nuclear de Zaporijia deverão chegar hoje à cidade de Enerhodar, no sudeste da Ucrânia, onde se situa o complexo atualmente sob controlo russo, noticiaram as agências internacionais.
A central, a maior do género na Europa, situa-se a 450 quilómetros a sudeste da capital ucraniana, Kiev, onde os peritos da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) chegaram na terça-feira.
A missão de 14 peritos é chefiada pelo próprio diretor da AIEA, o diplomata argentino Rafael Grossi, que antes de sair de Kiev disse tratar-se de uma operação complexa.
"Vamos para uma zona de guerra. Vamos para um território ocupado. E isto exige garantias explícitas não só dos russos, mas também da República da Ucrânia. Conseguimos assegurar isso. Por isso, agora estamos em movimento", disse Grossi, citado pela agência norte-americana AP.
"Estamos finalmente de partida após seis meses de esforço. A AIEA dirige-se para a central nuclear de Zaporijia", afirmou, segundo a agência ucraniana Ukrinform.
Segundo Grossi, a missão da agência especializada da ONU tenciona passar vários dias na central de Zaporijia, em particular para falar com o pessoal.
"Como sabem, temos lá uma tarefa muito importante, trabalhar e examinar a situação real, para ajudar a estabilizar a situação tanto quanto possível", afirmou.
Grossi disse também que a AIEA pretende estabelecer uma representação permanente em Zaporijia, que tem seis dos 15 reatores nucleares das quatro centrais elétricas do género em funcionamento na Ucrânia.
A Rússia, que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, controla a central de Zaporijia desde 04 de março.
As forças ucranianas e russas acusam-se mutuamente de ataques que podem provocar um desastre nuclear.
Os riscos são tão graves que as autoridades começaram a distribuir pastilhas de iodo antirradiação aos residentes nas zonas mais próximas da central.
Recentemente, a central esteve temporariamente desligada da rede elétrica, pela primeira vez, devido a danos causados por um incêndio, provocando um apagão na região e aumentando os receios de uma catástrofe.
As autoridades ucranianas atribuíram o incidente à ação das forças russas.
O ministro da Energia ucraniano, German Galushchenko, disse à AP que Kiev está a procurar ajuda internacional para tentar desmilitarizar a área.
"Pensamos que a missão deveria ser um passo muito importante para fazer regressar [a central] ao controlo do Governo ucraniano até ao final do ano", afirmou.
"Temos informações de que eles [os russos] estão agora a tentar esconder a sua presença militar, pelo que devem verificar tudo isto", acrescentou o ministro ucraniano.
O instituto norte-americano para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês) divulgou na terça-feira uma fotografia por satélite em que se veem veículos de combate russos "aparentemente abrigados sob a infraestrutura" da central, próximo da instalação de um reator nuclear.
A imagem foi obtida pela empresa norte-americana de tecnologia espacial Maxar Technologies, segundo o ISW.
A Ucrânia, os seus aliados ocidentais e a ONU têm apelado à Rússia para retirar os seus efetivos e equipamento militar da central nuclear.
Grossi reuniu-se na terça-feira com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para discutir a missão da AIEA à central de Zaporijia, que começou a ser construída em 1980, quando a Ucrânia integrava a União Soviética.