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Life’s a bitch

Só descobrimos que há outra verdade, quando adquirimos mais e melhores conhecimentos

Ninguém pediu para nascer e a vida, às vezes, é ingrata (“life’s a bitch”, dizem os falantes de inglês). Andamos anos a construir-nos, a tentar encontrar o nosso lugar na manada, a conseguir ser alguém, porque disso pode depender a nossa subsistência, a nossa sobrevivência.

Ao longo da vida procuramos certezas, defendemos causas, tentamos conquistar lugares e posições, pedimos favores, fazemos favores, tomamos partido, tentamos pertencer aos vencedores, lutamos por conseguir alguma estabilidade, torneamos conflitos, choramos derrotas, obtemos vitórias.

Esse processo leva-nos, inelutavelmente, a assumir posições de princípio, a manifestar opiniões. Se queremos ter sucesso, procuramos que as opiniões não sejam muito divergentes das opiniões e crenças das maiorias, porque isso nos poderia fragilizar e criar-nos-ia uma carga de trabalhos extra.

Muitas vezes, o nosso coração leva-nos a seguir correntes de opinião ou modas, mais ou menos bem-intencionadas, ou a perfilhar ideias e ideais, não raras vezes advindos da nossa juventude idealista ou da nossa nem sempre rigorosa capacidade de análise, ou atitudes “clubísticas”, que julgamos correctas e verdadeiras, sem que tenhamos a preocupação séria de as fundamentar devidamente.

Alguma comunicação social actual; as redes sociais; a moda do “politicamente correcto”; o ritmo alucinante de vida que nos impede, muitas vezes, de parar para pensar; a tendência moderna de pegar nos assuntos pela rama, mas expressar opinião; de ler os títulos e julgar que conhece os assuntos; o eco fácil que é possível obter com a extrema facilidade que temos de comunicar “on line”, não nos dão incentivo para ponderar, estudar, raciocinar, racionalizar, fundamentar.

A velocidade com que os temas e as situações (incêndios, guerras, atentados, inflação, intrigas políticas…) passam de moda, não nos penaliza, frequentemente, por asserções erradas, posições falsas, opiniões de validade discutível.

Não o fazemos por mal. Acreditamos estar a assumir a posição certa. Só descobrimos que há outra verdade, quando adquirimos mais e melhores conhecimentos, acerca dos assuntos em causa, devidamente fundamentados e sujeitos a contraditório. E, quando conseguimos seguir a razão em substituição das posições emocionais que são muito importantes, mas não devem ser exclusivamente determinantes, o mais certo é não sermos compreendidos pelos que nos rodeiam. Pior do que isso, pode colocar-nos na posição de “ter razão” contra a corrente, o que normalmente, só nos prejudica.

Às vezes é preciso muita coragem, trabalho e força de carácter para mudar de opinião. Para exprimir uma opinião fundamentada. Para utilizar o bom senso e a razão.