"Mundo virou as costas" aos afegãos e entregou país a "terroristas"
O "mundo virou as costas" ao Afeganistão e os Estados Unidos (EUA) entregaram o país aos talibãs ao retirar-se há um ano, "mesmo sabendo a mentalidade desse grupo terrorista", criticou a organização 'United Afghan Association'.
"Os talibãs são terroristas. Eles eram um grupo terrorista e sempre serão um grupo terrorista. Os EUA tomaram a decisão de entregar-lhes o país sabendo o tipo de mentalidade que tinham", lamentou a ativista Freshta Kohgadai, vice-presidente da 'United Afghan Association', uma organização que defende os interesses das comunidades afegãs no Afeganistão e na diáspora.
"Diferentes países em todo o mundo continuam a encontrar-se com os talibãs, apesar de conhecerem as suas crenças radicais e ações hediondas", adiantou a jovem cientista política nascida na capital afegã, em entrevista à Lusa a poucos dias do primeiro aniversário da conclusão da retirada norte-americana de Cabul (30 de agosto de 2021).
Kohgadai lamenta ainda que organizações como as Nações Unidas (ONU) "tenham o poder, mas não atuem" para ajudar o Afeganistão, avaliando que o mundo virou as costas ao seu país.
"Se o mundo continuar a permitir e apoiar os talibãs, não haverá esperança para o futuro do Afeganistão. O povo afegão está a morrer de fome, vítima de 'drones', de bombas e de deslocamentos. O mundo virou-lhes as costas e eles ficaram completamente sem esperança", relatou.
"Não há trabalho, não há dinheiro, membros de famílias estão a ser levados no meio da noite, homens e mulheres estão a desaparecer, os recursos do país estão a ser explorados. As coisas continuarão a piorar a menos que as superpotências do mundo retirem os talibãs do poder. Só esperamos que algo seja feito antes que seja tarde demais", apelou Freshta Kohgadai.
O Afeganistão caiu nas mãos dos talibãs a 15 de agosto de 2021, durante a retirada das tropas norte-americanas do terreno, concluída a 30 de agosto.
De acordo com a ativista afegã, as coisas continuam a piorar desde então, uma vez que os talibãs não atacam apenas mulheres, mas também qualquer cidadão que pense de maneira diferente, que fale uma língua diferente ou que pratique religião de maneira diferente.
"As pessoas no Afeganistão estão com medo de falar sobre os talibãs, já que qualquer pessoa que tenha falado teve os seus familiares sequestrados e as pessoas continuam a desaparecer e são consideradas mortas. É difícil saber o que realmente está a acontecer no Afeganistão. Tenho muitos familiares e amigos presos e incapazes de encontrar refúgio noutro lugar", contou.
"Os talibãs continuam a despojar o Afeganistão de tudo, incluindo de todos os seus direitos humanos básicos. Ao tomarem o Afeganistão, os talibãs prejudicaram o mundo inteiro. Eles estavam no poder antes e a maior parte do mundo pagou por isso", sublinhou.
Em relação ao líder da Al-Qaida recentemente morto em território afegão às mãos de militares norte-americanos, Freshta Kohgadai desaprovou o uso de 'drones' no ataque, apesar de ser um terrorista que já infligiu muita dor ao povo afegão.
"Embora [Ayman] Al-Zawahiri também seja um terrorista e por causa da sua organização terrorista o povo do Afeganistão tenha sofrido muito, também somos extremamente contra o uso de 'drones' por parte dos EUA. Os 'drones' mataram milhares, senão milhões de civis. O povo afegão está preso no meio de guerras em que não tem envolvimento. Não conhecem nada além da guerra há décadas e não estão a ter a oportunidade de se levantar do inferno que o mundo criou para eles", criticou, em entrevista à Lusa.
Segundo a Casa Branca, al-Zawahiri foi morto quando estava na varanda da residência onde estava hospedado, alvejado por dois mísseis disparados por um 'drone'. Apenas o líder da Al-Qaida foi morto na operação e não houve danos colaterais, assegurou Washington.