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Anónimos ou nem tanto...

A práxis política nesta terra tem muito que se lhe diga. Durante anos, a intimidação, o recurso a processos judiciais, a ameaça velada ou menos velada fizeram escola.

Na aparente mudança ocorrida nos últimos anos, os mais distraídos podem até pensar que agora se vive num ambiente mais democrático, com menos recurso a métodos pouco abonatórios do ponto de vista da ética política ou mesmo da moral.

Mas as coisas não são bem assim. Pela minha experiência na Câmara Municipal de Santa Cruz tenho vindo a verificar algumas ocorrências que me deixam um pouco chocado e que revelam a fragilidade de algumas acusações e críticas que se lançam ao azar.

Falo concretamente da estranha e bizarra semelhança entre as críticas que fazem à nossa gestão e algumas queixas anónimas que chegam à Polícia Judiciária e ao Ministério Público. Ora é no mínimo estranho que altos responsáveis políticos do Governo Regional profiram acusações e críticas em locais nobres como a Assembleia Legislativa da Madeira, que depois são plasmadas, na íntegra, em queixas anónimas. E aqui o anónimo tem muito que se lhe diga, mas tem principalmente a fraqueza de deixar claro que as críticas que proferem carecem de fundamento e de verdade. Que outra razão poderia existir para se esconderem atrás do anonimato? Nenhuma!

Quem tem a certeza e a segurança de proferir acusações e críticas certas e justas, não tem necessidade de se esconder, de não dar a cara, não tem sobretudo receio de enfrentar eventuais derrotas judiciais, que têm sido muitas.

A práxis política nesta terra continua a ser de uma pobreza imensa, mas sobretudo de uma desonestidade que choca e que enfraquece o debate e desgasta a qualidade e robustez da democracia.

Além disso, este recurso ao anonimato e a sua semelhança com o discurso oficial acaba por ter o efeito contrário ao que se pretende porque a população já está mais atenta, mais desperta e já não engole tudo o que ouve. Ao menos aqui temos evolução democrática.