Bolsonaro nega destruição da Amazónia e diz que UE quer acelerar acordo com Mercosul
O Presidente do Brasil negou governar um país que destrói a Amazónia e disse que a União Europeia quer acelerar o acordo com o Mercosul devido à invasão russa da Ucrânia, numa entrevista ao Jornal Nacional.
"Olha só, a Amazónia é do tamanho da Europa Ocidental. Ali, na Amazónia, cabe uma Alemanha, cabe uma França, cabe uma Itália, cabe um Portugal, cabe um montão de países. Você pensa que fiscalizar [áreas sob alerta de desmatamento] evita de pegar fogo", afirmou, na segunda-feira, em entrevista, Jair Bolsonaro, sobre incêndios e a queda de 97% das ações de fiscalização do Governo na Amazónia brasileira.
"Ninguém quer destruir floresta por livre e espontânea vontade", acrescentou, num outro momento da entrevista que concedeu ao telejornal da Globo e o de maior audiência do país.
Sobre o acordo de livre comércio, assinado em 2019 entre a UE e o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), mas por validar devido, sobretudo, aos problemas ambientais no Brasil, Bolsonaro disse que o bloco europeu estará a acelerar as negociações por causa da guerra na Ucrânia.
"O acordo Mercosul e União Europeia estava travado, com os problemas, agora com a guerra da Ucrânia e Rússia, a União Europeia quer acelerar o acordo connosco, para o Mercosul", afirmou.
Bolsonaro indicou que os países da Europa já estão em contacto com o Brasil para negociar uma possível produção que o país sul-americano estima realizar de hidrogénio verde, uma alternativa energética produzida com fontes limpas e renováveis.
"O Brasil será uma grande potência fornecedora de energia de hidrogénio verde, como já temos atestado (...) E nós vamos exportar esse hidrogénio verde para a Europa toda. Ou seja, o Brasil é exemplo para o mundo", afirmou.
"Você pega, está na minha frente por coincidência aqui, por exemplo, as áreas reservadas em países, outros, para a agricultura, não é pecuária, é agricultura. Somente a União Europeia, é de 45% a 65%. Você pega países como Alemanha, 56% [do território] para a agricultura. Você pega o Reino Unido, 63% para a agricultura. O Brasil preserva dois terços [do território] 66% da sua área verde. O Brasil não merece ser atacado dessa forma", sublinhou.
O chefe de Estado brasileiro também apontou problemas em países europeus para combater incêndios em floresta e admitiu que maior parte dos incêndios florestais no Brasil tem origem criminosa.
"Quando se fala em Amazónia, por que não se fala na França, que há mais de 30 dias está pegando fogo. Assim como Espanha e Portugal. Califórnia pega fogo todo ano. Brasil, infelizmente, não é diferente. Grande parte disso aí é criminoso, eu sei disso", lançou.
Com 32% das intenções de voto e atrás do antigo Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as sondagens com 47%, segundo o instituto Datafolha, Bolsonaro procurava com esta entrevista ao Jornal Nacional reconquistar apoio de eleitores que votaram no atual chefe de Estado, em 2018.
Mas o ambiente tenso entre o Presidente e os jornalistas da TV Globo, ao longo de uma conversa de 40 minutos, colocaram em causa as expectativas da campanha de melhorar a imagem de Bolsonaro, que ainda poderá conquistar votos com o início do horário eleitoral gratuito, a partir de sexta-feira.
A eleição presidencial no Brasil tem a primeira volta marcada para 02 de outubro e a segunda volta, caso seja necessária, no dia 30 do mesmo mês.
Ao todo, 12 candidatos disputam as presidenciais: Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, Luís Felipe D'Ávila, Soraya Tronicke, Roberto Jefferson, Pablo Marçal, Eymael, Leonardo Pericles, Sofia Manzano e Vera Lúcia.