“Não é com demonstrações estéreis de poder que se recupera o maior das ilhas”
A actual situação em torno do Club Sport Marítimo tem originado várias reacções nas redes sociais e não só. O deputado e líder da JSD/Madeira, Bruno Melim, foi um dos que aproveitou a sua página Facebook para falar sobre uma instituição que lhe diz muito e que procura acompanhar sempre que possível.
“O Club Sport Marítimo é uma instituição que me diz particularmente muito. Quando joga, procuro estar o mais próximo possível do meio que me permite acompanhar, em tempo real, os desenvolvimentos dos jogos. Se estiver na Madeira e o jogo for no nosso caldeirão, a agenda permitindo estou lá. Senão, acompanho pela televisão, ou pela internet. Pela exposição pública, bem como pelos cargos que desempenho, evito comentar a vida desta instituição. Apesar de ser associado há cerca de 20 anos, sempre com quotas pagas, evito comentar a situação do clube porque não deve haver confusão de planos. Mas, infelizmente, atendendo aos últimos anos de instabilidade do clube, não é a primeira vez que o faço”, diz, deixando assim reparos à actual situação, que, no seu entender, se deve a quatro motivos.
Leia aqui a reacção na íntegra:
“Na minha modesta opinião, a situação em que o Marítimo se encontra, verifica-se por quatro grandes motivos:
1- Um projeto contra alguém e não apenas o melhor para o Marítimo;
2- Inconsequência e falta de planeamento no plano desportivo;
3- Treinador desadequado
4- Falta de projeto Marítimo enquanto instituição.
O primeiro ponto é muito simples. Ao final de 6 mandatos de uma liderança, consubstanciada em 24 anos de projeto, atendendo ao mal estar que havia na massa adepta, Carlos Pereira devia ter percebido que estava na hora de se retirar. Por muita amizade e estima que possa ter pelo nosso antigo Presidente, os melhores anos do projeto de afirmação do nosso clube, sob a sua liderança, bem como a gestão por si protagonizada estava ultrapassada. Os jogadores eram medianos, do ponto de vista de marketing o clube estava ultrapassado e longe da sua nova realidade, bem como do restante futebol. Todavia, insistiu numa “última candidatura” que levou a que um conjunto alargado de sócios se juntassem contra o projeto que apresentava. Não interessava quem liderava, nem o que trazia. Bastava apenas ser um arauto de mudança e isso era suficiente. Sob essa perspetiva, o único a merecer uma nota positiva na nova direção é Eugenio Mendonça. O Vice Presidente para o capital humano, serenou a relação entre os sócios e o clube, regulamentou as claques, criou pontes de diálogo. Mas de resto, passou um ano. E da nova direção? O que melhorou, de facto passado um ano? O Marketing e a relação com os adeptos. E fora isso? Foi um projeto para o melhor do CS Marítimo ou para correr com o anterior presidente.
2- Este segundo ponto leva a uma questão simples: o que raio andou a atual direção do clube e da Sad a fazer desde janeiro? Sabendo os próprios que não tinham sido eles a preparar a última época desportiva, deviam ter acautelado as saídas que se previam. Não tenho nada pessoal contra nenhum dos dois, mas que provas dadas tem o João Luís e o Luís Olim para um clube da primeira liga portuguesa? As experiências de um deles na Suíça, Lituânia e Africa deixam muito a desejar. E o outro, desculpem a frontalidade, não lhe conheço trajeto algum. Pode ser incompetência minha, confesso. Mas para a recuperação da “mística do caldeirão” vamos buscar dois nomes conhecidos da casa, mas irrelevantes no panorama do futebol nacional?
Ainda sobre este ponto, irrita-me a postura autoritária que o Presidente parece querer ter. “Demonstrou o seu desagrado, de forma expressiva já depois da derrota com o chaves”. Esta expressão “chique” para dizer que deu uns berros aos administradores da SAD é uma necessidade de afirmação de liderança de quem parece estar com o clube à deriva. De quem não é ouvido nas decisões, como aliás refere na notícia de hoje em que diz que os administradores da SAD “só ouvem um empresário.” A primeira pessoa a quem o Presidente do Marítimo devo dar uns berros era a si próprio. Afinal, o que andou a fazer desde janeiro?
Só depois de levar 5 do Porto e do Braga é que se apercebeu da incompetência dos seus administradores? Quem me garante, enquanto adepto, que os jogadores que tem agora referenciados são sequer decentes?
3- Quem me conhece sabe que nunca fui defensor da contratação do Vasco Seabra. Treinador fraquíssimo cujo último plantel de um clube que construiu, mora na liderança da segunda liga. Se olharmos para a sua passagem pelo Marítimo em 21/22, o seu saldo são 8 vitórias, 7 empates e 8 derrotas. 5 das 8 vitórias foram conquistadas entre novembro 21 e janeiro de 2022. Será que em Maio ninguém tinha percebido que durante esse ano civil (2022) só tinha ganho 3 jogos na segunda volta?
Como se isto não bastasse, se olharmos à média de pontos verificamos que nesses 23 jogos fez uma média de 1,34 pontos. O que, numa conta simples, se transformarmos em 34 jornadas daria 45/46 pontos. Em condições normais, estes pontos poderiam dar a última vaga europeia do campeonato, caso a média se mantivesse. Contudo se olharmos às últimas 3 temporadas, nunca 46 pontos foram suficientes para segurar o 6 lugar da liga. Além de tudo isto, Seabra falhou o objetivo de fim de época. Se o Marítimo tivesse vencido na última jornada o Portimonense em casa, teria terminado o campeonato em 7 e não em 10. Teria sido importante, nomeadamente, em matéria de qualificação para a Taça da Liga.
Não será a constatação que o Marítimo de Seabra falha nas horas “h”?
Além disso, olhando à construção do plantel, vemos que 4 dos 11 jogadores mais utilizados saíram( Paulo Victor, Guitane, Ali Alipour e Igor Rossi). Num meio-campo a três, saíram duas das peças mais importantes. E o treinador não percebe isto? Passa de um plantel de 33 jogadores para um de 25 e não acha curto o investimento feito em jogadores de valor acrescentado e créditos firmados? Faltou algum investidor?
Será que não está na hora de ir embora?
4- No fundo uma conclusão da soma dos três pontos anteriores. Não parece existir coordenação daquilo que se quer da estrutura para futuro. Com todos os defeitos, e eram muitos, Carlos Pereira conseguiu um “main sponsor” que hoje patrocina os grandes em Portugal. Por muito Autonomista que seja e, embora defendendo que a Madeira devia ter uma primazia maior nos equipamentos do que aquela que tinha anteriormente, do ponto de vista estritamente do clube, revela incapacidade de atrair outros sponsors para o projeto desportivo apresentado.
Continua a faltar ao Marítimo uma dimensão própria dos clubes de territórios com emigração. Temos, cada vez uma menor ligação à diáspora, algo que não faz sentido numa geração cada vez mais global. Será que não há vários empresários de sucesso madeirenses pelo mundo que gostariam de ver o principal clube da terra vingar em Portugal e no estrangeiro, como os próprios fizeram na sua vida?
Não tenho quaisquer ambições ao dirigismo
Desportivo. Mas o Marítimo foi parte importante na minha formação e uma instituição de referência da Madeira. Simplesmente, como associado achei que devia expressar aquilo que penso. Esperando que isso, obviamente, não ofenda ninguém.
Ninguém será mais feliz do que eu, se rapidamente tiver de escrever bem sobre todos os intervenientes aqui mencionados. E fazer “mea culpa” de tudo o que disse. Dêem-me apenas motivo para isso.
Viva ao Maior das Ilhas.
Viva ao Marítimo.”