Rússia só negociará tratado nuclear com EUA assente em "respeito mútuo"
O Kremlin defendeu hoje que as conversações sobre um novo tratado nuclear entre a Rússia e os Estados Unidos só serão possíveis com base em respeito mútuo e tendo em conta as preocupações de ambas as partes.
Tais declarações foram emitidas em resposta a um apelo do Presidente norte-americano, Joe Biden, para abordar o tema com Moscovo.
"Só com base no respeito mútuo, tendo em conta as preocupações de cada parte e estando dispostos a ouvir as preocupações de cada parte", disse em conferência de imprensa o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, reagindo assim à proposta de Biden.
O chefe de Estado norte-americano propusera na véspera o início imediato de negociações com Moscovo para a assinatura de um novo tratado nuclear (um novo START), em substituição do START III, cuja validade termina em 2026.
"Moscovo tem falado várias vezes sobre a necessidade de iniciar quanto antes estas negociações, já que resta pouco tempo [até ao fim da validade do tratado em vigor]", disse Peskov.
Segundo o porta-voz do Kremlin, "se o tratado caducar sem ter sido substituído por uma base sólida, tal incidirá do modo mais negativo possível na segurança e na estabilidade mundiais, sobretudo na esfera do controlo de armamentos".
"Por isso, nós defendemos desde o princípio começar a conversar o mais rapidamente possível, mas até agora, precisamente os Estados Unidos da América (EUA) não mostraram de facto nenhum interesse em qualquer tipo de contactos substanciais, tão necessários", comentou.
Pouco depois de chegar à Casa Branca, em janeiro de 2021, e apenas dez dias antes do fim do prazo de validade do tratado, Biden acordou com o Presidente russo, Vladimir Putin, a renovação do START por mais cinco anos.
Este último tratado de desarmamento entre ambos os países limita o número de armas nucleares estratégicas a um máximo de 1.550 ogivas nucleares e 700 sistemas balísticos.
Putin, que sustenta que a corrida aos armamentos no mundo "está em marcha" desde que os Estados Unidos abandonaram, em 2002, o tratado antimísseis, dirigiu-se na segunda-feira aos participantes na Conferência de Não-Proliferação de Armas Nucleares com a frase: "Numa guerra nuclear, não pode haver vencedores".
"Ela nunca deve ser desencadeada, defendemos uma segurança em igualdade de condições e indivisível para todos os membros da comunidade internacional", frisou.
Em dezembro passado, o Kremlin impôs condições para a coexistência pacífica com os Estados Unidos, que incluíam a assinatura de um novo tratado excluindo a colocação de armamento nuclear fora das suas fronteiras e o retorno aos respetivos silos das armas já destacadas.
Numa proposta sem precedentes, que os EUA rejeitaram, ambas as partes também se comprometeriam à destruição das infraestruturas já existentes para tal no estrangeiro, além de deixarem de realizar testes nucleares e de instruir especialistas civis e militares de outros países.