Rússia acusa EUA e UE de "frenesim anti-sérvio" e "encorajar radicais do Kosovo"
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo exortou hoje as potências ocidentais, em particular os EUA e UE, a "deixarem de encorajar os radicais" do Kosovo, no seu "frenesim anti-sérvio", após nova escalada das tensões.
Maria Zakharova responsabilizou "totalmente" o ocidente, numa referência evidente aos Estados Unidos e União Europeia (UE), por uma série de "experiências" nos Balcãs que apenas têm contribuído para "comprometer a frágil estabilidade da região", indicou, citada pela agência noticiosa TASS.
"Emitimos um apelo aos Estados Unidos e à União Europeia para que recusem estimular os radicais de Pristina [capital do Kosovo] no seu frenesim anti-sérvio, e terminem as provocações contra os sérvios kosovares", disse Zakharova.
As tensões na fronteira agravaram-se no domingo quando os sérvios ergueram barricadas na fronteira, em protesto pelas decisões do Governo kosovar sobre a aplicação de medidas para impedir o uso de documentos de identidade e matrículas da Sérvia no território do Kosovo e que entraria em vigor na segunda-feira.
Por pressão dos seus aliados, em particular dos Estados Unidos, as autoridades de Pristina decidiram adiar a medida legislativa por um mês.
Zakharova considerou que na origem do conflito reside "o incumprimento por parte de Pristina das suas obrigações, e a sabotagem das negociações com Belgrado [a capital da Sérvia]", apesar de também ter censurado diretamente a UE pela sua "incapacidade" para mediar entre a Sérvia e o Kosovo.
Na segunda-feira, o Kremlin forneceu o seu total apoio à Sérvia no prolongado contencioso com o Kosovo, a sua ex-província do sul que autoproclamou a independência em 2008, e considerou "irrazoáveis" as exigências de Pristina.
A postura de Moscovo foi criticada por diversos dirigentes albaneses kosovares, nomeadamente Blerim Vela, chefe de gabinete do primeiro-ministro kosovar, que na sua conta no Twitter a considerou "uma confirmação de como a Rússia vê a Sérvia: um instrumento para desestabilizar o Kosovo, a região e o continente europeu".
Desde 2011 que a Sérvia e o Kosovo promovem negociações para a normalização das relações, mediadas pela UE, mas sem resultados palpáveis até ao momento.
Os cerca de 120.000 sérvios ortodoxos do Kosovo -- os números divergem consoante a origem, admitindo-se que possam chegar aos 200.000, com cerca de um terço concentrados no norte do território - não reconhecem a autoridade de Pristina e permanecem identificados com Belgrado, de quem dependem financeiramente.
Belgrado nunca reconheceu a secessão do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra sangrenta iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais.
O último episódio de tensões ocorreu em setembro do ano passado após a decisão de Pristina de proibir as matrículas de identificação sérvias: durante diversos dias, foram bloqueados dois postos fronteiriços.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os EUA que mantém forte influência sob a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território, e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.