Serviços de informações de Kiev preveem ataque russo "em grande escala" em Zaporijia
Os serviços de informações ucranianos anunciaram ter recebido confirmação sobre a preparação de um ataque russo "em grande escala" hoje na central nuclear de Zaporijia.
"Recebemos confirmação adicional [dos serviços de informações] sobre a preparação pelos ocupantes [russos] de uma provocação na central nuclear de Zaporijia em 19 de agosto", disse, em comunicado citado pela agência Unian, a Direção Principal de Informações (DPI) do Ministério da Defesa ucraniano.
"Considerando a quantidade de armamento agora nas instalações da central nuclear, bem como os repetidos bombardeamentos [russos] feitos como provocação, há uma alta probabilidade de um ataque terrorista em grande escala à instalação nuclear", alertou a DPI.
As forças russas controlam a central de Zaporijia, a maior do género na Europa, mas ambas as partes acusam-se mutuamente de ataques que podem provocar um desastre nuclear.
A Ucrânia tem quatro centrais nucleares em funcionamento, com um total de 15 reatores, seis dos quais na de Zaporijia.
A DPI detalhou que "em particular, o pessoal licenciado [que desempenha funções com base numa licença emitida pela Inspeção Nuclear do Estado] foi instruído a ficar em casa" e que "uma pequena parte do pessoal operacional" terá permissão de acesso à zona da central.
A mesma fonte referiu ainda que na reunião de quinta-feira à tarde da administração da central nuclear de Zaporijia não havia representantes da empresa nuclear estatal russa Rosatom, que desde a ocupação participou de todas as reuniões do género.
Os representantes da Rosatom terão mesmo "abandonado completamente as instalações da central".
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse na quinta-feira após um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterres, pretender que as Nações Unidas garantam a desmilitarização da central nuclear de Zaporijia.
Na reunião com Guterres, realizada na cidade ucraniana de Lviv, Zelensky acusou a Rússia de fazer chantagem com a segurança da central nuclear de Zaporijia (sudeste da Ucrânia), segundo relatou na rede social Telegram.
Zelensky disse que o clima de "terror deliberado da parte do agressor pode ter consequências catastróficas a nível global" no caso de um acidente nuclear na central.
"A ONU tem de garantir a segurança deste ativo estratégico [central nuclear de Zaporijia], a sua desmilitarização e completa libertação das tropas russas", defendeu.
A Rússia tem rejeitado propostas para desmilitarizar a área em torno da central nuclear de Zaporijia, que considerou como inaceitáveis.
"As propostas de desmilitarização de uma área em redor da central nuclear de Zaporijia são inaceitáveis", disse na quinta-feira o porta-voz da diplomacia russa Ivan Nechaev.
Para Moscovo, a implementação de tais propostas "tornará a central muito mais vulnerável", acrescentou.
Em Lviv, Guterres alertou na quinta-feira para a situação "preocupante" da central nuclear ucraniana de Zaporijia, salientando que não deve ser usada como parte de qualquer operação militar.
"É urgentemente necessário um acordo para restabelecer Zaporijia como infraestrutura puramente civil e para garantir a segurança da área. (...) Não devemos poupar esforços para garantir que as instalações ou arredores da central não sejam alvo de operações militares. Equipamentos e pessoal militar devem ser retirados da central", exortou.
Em estreito contacto com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), a ONU avaliou ter na Ucrânia a capacidade logística e de segurança para apoiar qualquer missão da AIEA à central nuclear de Zaporijia, "desde que a Rússia e a Ucrânia concordem", disse Guterres.
"A área precisa de ser desmilitarizada. Devemos dizer as coisas como elas são -- qualquer dano potencial a Zaporijia é suicídio", afirmou o ex-primeiro-ministro português.