Artigos

Alucinações estivais

A quem interessa manter fasquia da população na situação da maior dependência possível?

Este período em que muitas pessoas gozam umas merecidas férias proporciona momentos de devaneios, de um “dolce fare niente”, desfrutando de uma letargia física e intelectual. É nestes momentos, que muitos de nós “navegamos”, conjecturamos e alucinamos.

Atenção: conjecturamos e alucinamos no bom sentido!

António e Bernardina beneficiaram duma herança que lhes proporcionou uns dinheirinhos. Trataram de trocar de carros – cada um tem um para poderem deslocar-se para o seu trabalho – e compararam um televisor panorâmico, com hifi, surround speakers e outros equipamentos domésticos e electrónicos de vanguarda. Os carros estão em nome dum familiar. Afinal, convém tomar precauções para não perder “nenhum dos direitos adquiridos”, como são uma renda social, o mais elevado escalão do abono de família e o mais baixo escalão das mensalidades dos dois filhos em idade escolar. Um casal sem património e com responsabilidades.

Carlos e Diana, herdeiros como António, também beneficiaram de quota parte igual. Fizeram uma pequena reparação da casa e, com o restante, acharam que deveriam constituir um pé de meia, para uma eventualidade futura. No ano seguinte, o escalão do abono de família foi prejudicado e o casal perdeu parte da receita. As mensalidades que pagavam para ter os filhos na escola aumentou. Afinal passaram a ser ricos e os ricos é que devem pagar as crises… dizem!

Eduardo e Fátima, emigrantes toda a vida, chegados à terra, foram informados que poderiam obter apoios sociais. Foram à procura deles. Apresentaram os documentos solicitados onde se evidenciava um “pé de meia” interessante, a sua habitação além de dois apartamentos arrendados. Foi-lhes negado o direito ao apoio social.

Passados três meses, voltaram a pedir o mesmo apoio. Desta vez, os comprovativos bancários e patrimoniais indicavam um valor nulo. Passaram a receber o apoio.

Qualquer semelhança entre estas 3 “alucinações” e a realidade não é pura coincidência!

Até parece que o incentivo é consumir, como se fôssemos um país de ricos. De facto, o Estado deve agradecer, uma vez que o consumo gera impostos. E em que quantidade! A maior parte dos bens e serviços à taxa máxima, no que toca ao IVA. No que toca aos impostos especiais, então só bastará pensar que cerca de 50 % do preço dos combustíveis são impostos…

Enfim, outros existirão que vão poupar para pagar os subsídios, os programas de ajustamentos económicos e financeiros. E, aos nossos governantes o que interessa é manter uma fasquia grande da população na situação da maior dependência possível. Assim é que se colhe muito fruto, digo, muitos votos nas urnas, junto dos dependentes destes subsídios atribuídos com base num formulário apreciado no gabinete e que nunca será controlado no terreno.