Soldados do Burundi chegam ao leste da RDCongo para combater grupos armados
Soldados burundineses chegaram na segunda-feira ao leste da República Democrática do Congo (RDCongo) para apoiar o exército na luta contra os grupos armados que ali operam, após a Comunidade da África Oriental aprovar o envio de uma força regional.
"Os militares estão aqui no quadro da EAC [sigla em inglês da Comunidade da África Oriental], segundo o estipulado no acordo de Nairobi", de 21 de abril, disse Marc Elongo, porta-voz das operações militares das Forças Armadas congolesas na província de Kivu do Sul, citado pela agência Efe.
O militar não adiantou o número de soldados no terreno nem por quanto tempo ficarão na RDCongo, mas garantiu: "Juntos vamos rastrear os grupos armados para restaurar a paz".
O contingente do Burundi ficará na província de Kivu do Sul, uma das mais castigadas pela violência dos grupos rebeldes.
Em 21 de abril, os presidentes dos sete Estados-membros da EAC - RDCongo, Ruanda, Uganda, Quénia, Tanzânia, Burundi e Sudão do Sur -- acordaram o estabelecimento de uma força regional no leste da RDCongo, mas não adiantaram mais pormenores sobre a sua composição.
Em 15 de junho, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, pediu o envio "imediato" dessa força regional "para as províncias de Ituri, Kivu do Norte e Kivu do Sur", para conter uma escalada miliar e de tensões diplomáticas provocada pelo avanço do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23).
Mas dois dias após a chegada da força ao seu território, a população do Kivu do Sul está dividida quanto à presença oficial no seu solo de militares do Burundi.
O médico congolês Denis Mukwege, Nobel da paz em 2018, já tinha manifestado a sua hostilidade ao projeto de destacamento de uma força regional no leste do seu país, atormentado há quase 30 anos pela violência de grupos armados, alguns locais, outros com milicianos originários de países vizinhos.
Numa mensagem colocada na rede social Twitter, o médico disse que o destacamento "demonstra a falência da diplomacia" e é "mais uma humilhação" para a RDCongo.
"Ponhamos fim à externalização da segurança por Estados desestabilizadores e trabalhemos na reforma do nosso exército para o tornar profissional e operacional", apelou.
A opinião de Mukwege foi secundada por uma organização da sociedade civil da província, chamada "Nova Dinâmica da Sociedade Civil", que acusou "a maioria desses exércitos" de estar no território congolês há anos.
Mas outras associações locais saudaram a chegada do contingente burundinês, face à persistência da violência, que nem o exército nem a ONU conseguem parar.
O presidente da sociedade civil de Minembwe, Saint-Cadet Kibibi, por exemplo, disse à France-Presse que a força do Burundi é "bem-vinda", questionando-se no entanto sobre a capacidade desses militares de alcançar a paz.
"Queremos ver essa força fazer seu trabalho corretamente, em conformidade com o direito internacional humanitário", pediu.
Kelvin Bwija, da "Sociedade Civil de Compatriotas/Uvira-Fizi", quer que as autoridades estabeleçam "a duração precisa dessas operações".
O leste da RDCongo é cenário de atividade armada de cerca de uma centena de grupos que semeiam o caos na região há quase 30 anos.
Um dos mais ativos dos últimos meses é o M23, uma ex-rebelião dominada pelos tutsis derrotada em 2013 e que voltou a pegar em armas no final do ano passado, acusando Kinshasa de não ter respeitado os acordos de desmobilização e reintegração dos seus combatentes.
Desde então, o M23 tomou o controlo de várias localidades, nomeadamente a estratégica cidade fronteiriça de Bunagana.
A RDCongo acusa o vizinho Ruanda de ter dado apoio ao M23, algo que Kigali tem sempre negado.