O palco dos mesmos
O que motiva realmente a criação de tantas novas associações na Madeira?
Boa noite!
188 associações foram criadas na Região nos últimos cinco anos. E muitas outras poderiam ter surgido não fossem alguns dirigentes manifestarem estar à beira da exaustão pois são presidentes numa, tesoureiros noutra e vogal em mais meia dúzia. Se houvesse limitação de participação do mesmo cidadão num sem número de órgãos sociais de tudo o que mexe na freguesia e arredores, haveria tanta associação?
A notícia que surgiu em manchete no DIÁRIO desta quarta-feira revela que só no 1.º semestre de 2022 foram constituídas 26 instituições na Madeira, o que equivale ao nascimento de uma organização privada por semana nas mais diversas áreas de actividade, algumas das quais solidárias, muitas reveladoras do desejo incontido de participação activa na sociedade e outras de interesse duvidoso.
O ritmo tem vindo a acelerar desde 2018 e questão impõe-se: O que motiva realmente a criação de tantas novas associações na Madeira, Região que é sobejamente conhecida pelo pouco fervor colectivo?
As respostas ao inquérito colocado hoje no dnoticias.pt são eloquentes.
Mas não contam tudo. Até porque é público e notório que os dirigentes associativos têm direitos consagrados por lei, desde bancos de horas conforme a representatividade associativa, faltas justificadas ao trabalho, dispensas de serviço ou de aulas, entre outras benesses.
Não admira por isso que numa terra dada à multiplicação de causas com a mesma finalidade, porque muitos, quase sempre os mesmos, se acham com direito a palco, e numa era com tantos apoios financeiros disponíveis, seja mais fácil a uns quantos serem destacados para uma associação do que picarem o ponto na administração pública. Na prática é uma evolução na continuidade. Outrora muitas organizações nasciam do seio do poder e mais não eram do que instrumentos de criação de ruído social ou de pacificação de áreas laborais.
Sem retirar mérito a quem o tem e à necessidade de haver vozes autorizadas em matérias específicas, que não devem ser entregues de bandeja a quem delas nada sabe, o boom associativo regional é um assunto a merecer análise, não só sociológica, como política, sem que seja preciso fundar qualquer associação com essa finalidade.