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Chega defende afastamento da diretora da Obra Católica para as Migrações

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O presidente do Chega, André Ventura, solicitou ao cardeal patriarca de Lisboa uma reunião urgente para esclarecer as declarações da diretora da Obra Católica para as Migrações (OCPM) e pediu o afastamento de Eugénia Quaresma do cargo.

Em comunicado, a direção nacional do Chega salienta que André Ventura quer ver esclarecidas as declarações de Eugénia Quaresma que deixaram "profundamente ofendidos" milhares de "militantes e simpatizantes católicos" do partido.

Eugénia Quaresma afirmou, na sexta-feira, que a xenofobia e o racismo no discurso político é uma situação "muito grave", que considera estar a aumentar e que ganhou palco porque dá voz à insatisfação "de coisas que não estão concretizadas", daí a importância, a nível político, de se promover "o desenvolvimento do país, sem deixar ninguém para trás".

Questionada sobre se este tipo de discurso está a agravar-se na política, a responsável da OCPM explicou, referindo-se ao partido Chega, que "agora tem palco, tem lugar na Assembleia [da República] e, pelo número de deputados que tem, portanto, tem uma maior expressão".

No comunicado divulgado hoje, o Chega considera que a diretora da OCPM não tem condições de continuar no cargo "porque misturou funções oficiais e institucionais com a sua eventual opinião política e arrastou um organismo da Igreja católica para a arena político-partidária de forma absolutamente injustificada".

O Chega pretende ainda que a Igreja Católica "se demarque, o quanto antes, das declarações" de Eugénia Quaresma.

Em 21 de julho, no debate sobre a revisão da lei de estrangeiros, no parlamento, o presidente do Chega, André Ventura, acusou o Governo (PS) de querer que os imigrantes "venham de qualquer maneira" para o país e acrescentando: "Só há uns que nunca têm prioridade no discurso do Governo, os portugueses que trabalharam toda a vida, que pagam impostos e estão a sustentar o país".

André Ventura chegou mesmo a dizer que os imigrantes que chegam a Portugal não são iguais aos portugueses que emigram para outros países, intervenção que gerou muitos protestos por parte de vários deputados no hemiciclo e levou à intervenção do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

"Devo dizer que como presidente da Assembleia da República de Portugal considero que Portugal deve muito, mas mesmo muito aos muitos milhares de imigrantes que aqui trabalham, que aqui vivem e que aqui contribuem para a nossa Segurança Social, para a nossa coesão social, para a nossa vida coletiva, para a nossa cidadania e para a nossa dignidade como um país aberto inclusivo e respeitador dos outros", declarou, tendo sido aplaudido por deputados de várias bancadas, à exceção do Chega.

André Ventura ripostou, considerando que o presidente do parlamento deveria "abster-se de fazer comentários" sobre as intervenções dos deputados e acusando-o de representar o PS nas suas funções.

Os deputados do Chega acabaram por abandonar o hemiciclo.

Duas semanas depois, o líder do Chega defendeu que a sua intervenção "não tem nada a ver nem com xenofobia, nem com racismo, tem a ver com um país que tem de ter controlo sobre as suas fronteiras" perante a "imigração ilegal" e "as consequências que isso pode ter, sejam eles de que país forem".