Éfeso: Passagem da Assunção da Mãe de Deus
Nas visitas a Éfeso, somos convidados a tomar contato com duas presenças gloriosas da Mãe de Deus. A primeira é a da sua casa nos últimos anos da sua vida terrena. Foi para ali levada por S. João a quem Jesus na cruz a confiou, ao dizer: eis a tua Mãe! Em Jerusalém, o ambiente tornou-se perigoso para vida dos primeiros cristãos, por volta de 42, quando Herodes mandou decapitar Tiago. João decidiu protegê-la acompanhando-a para Éfeso em viagem de barco de cerca de duas semanas. Esta cidade era uma das mais importantes do império romano onde existia a terceira maior biblioteca com 80 mil papiros. Na cidade estava-se a desenvolver uma comunidade cristã, mas o ambiente não era seguro para Nossa Senhora aí viver. Por isso, João terá optado por procurar nos arredores um local de confiança na montanha de Codessos, a uns 8 kms, onde cristãos se refugiavam e Ela ali ficou a viver de forma muito reservada com alguns vizinhos em casa modesta com materiais dessa época. Aí terá vivido até cerca de 62 e aí se terá dado a sua Assunção como rezamos no 4º mistério glorioso do terço. A Assunção foi proclamada por Pio XII em 1 de novembro de 1950 depois de consultar os bispos de todo o mundo. A outra expressão usada para Assunção na Igreja primitiva é Dormício. Alguns são de parecer que ela terá voltado a Jerusalém todos ou quase todos os anos.
Tem-se mantido outra hipótese de que a Dormício sucedeu em Jerusalém. Mas a hipótese de ter sido em Éfeso começou a adquirir evidências mais determinantes a partir de 1824 com as revelações feitas a Catarina Emerich, a estigmatizada, que ela transmitiu ao poeta escritor Clemente Brentano e ele registou em livro. Em 1881 o Pe. Julien Gouyet, seguindo a narrativa das visões de Catarina desse livro, foi pesquisar e encontrou em Codessos o lugar exato da casa da Mãe de Deus e parte das paredes da casa. Posteriormente as ruínas foram reconstruídas e adaptadas a capela. A capela atual era visitada nesse dia 29 de julho de 2022 por fila continua de peregrinos sem poderem deter-se. Dentro foi colocado altar, nichos na parede do fundo e uma imagem de Nossa Senhora em bronze. Mais abaixo muitos peregrinos bebiam nas fontes de água de graça considerada milagrosa que ali corre de nascente do tempo de Maria atrás da casa. A probabilidade de ser este o local da Casa de Maria não tem cessado de receber apoios pelas relações de vários papas que visitaram e declararam lugar de peregrinação: Ângelo Ronccalli (João XXIII) quando Núncio em Istambul, Paulo VI (1967). Mas o facto de ter sido beatificada por S. João Paulo II em 3.10.2004 e de o local ter sido visitado por Bento XVI onde celebrou solenemente em 29 de novembro de 2006, pronunciando uma homilia memorável em que se refere aos privilégios de Maria, fizeram pender definitivamente para confirmar Éfeso como terra de Maria. O Papa Bento XVI acentuou na sua homilia a outra presença de Maria. A sua grande igreja, de Nossa Senhora, construída ao lado da cidade romana no século IV, onde em 431 se realizou o Concílio de Éfeso que selou com chave de outro o dogma de Santa Maria como Mãe de Deus, a Theotocos, com a presença do grande Bispo S. Cirilo de Alexandria. Nele foi proclamado solenemente que Nossa Senhora era verdadeira Mãe de Deus, a Theotocos, que é como o reconhecimento de todos os privilégios de Maria, incluindo a sua Assunção em corpo e alma ao céu. Nesta época já o culto mariano estava implantado na cidade com essa igreja dedicada à Virgem Maria. Ainda hoje, ali se observam as paredes da base que dão uma ideia da sua grandeza e uma placa a testemunhar o concílio que afirmou a verdade de Jesus, uma só pessoa e duas naturezas, Filho de Deus-Pai e filho de Maria, contra o erro de Nestório. Não esquecer que já no século III se rezava na Igreja a oração: “à vossa proteção, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, oh Virgem gloriosa e bendita” atestada por um papiro do século III, descoberto no Egipto.
Outro facto relacionado é narrado nos Atos dos Apóstolos (cf. At. 19, 23-40). Maria como que veio ocupar a posição preponderante da deusa Ártemis. Esta deusa tinha em Éfeso um templo que era uma das sete maravilhas do Mundo. Foi incendiado por um louco, foi reconstruído e destruído com terramoto. As colunas de 20m terão mais tarde servido na construção da majestosa basílica de Santa Sofia de Istambul. Os Atos dos Apóstolos narram um tumulto entre os comerciantes e industriais por S. Paulo dizer que esta deusa era apenas um ídolo e isso prejudicava os negócios.
A Mãe de Deus continuará a ser Aquela que repete a dizer aos povos da Turquia o que disse nas Bodas de Canaá: “fazei tudo o que Ele vos disser” e certamente que responderá aos pedidos que as multidões vão deixando ao seu cuidado nas fendas do muro das fontes em que uma família búlgara me pediu a caneta para cada um dos quatro escrever a sua prece. E eu já tinha escrita a minha a pedir uma passagem para o Pai semelhante à dela e com a sua presença junto de mim. É ali que o “rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte” ganha pleno sentido de vida eterna.
Éfeso e S. Simão de Litém, 29 de julho e 4 de agosto de 2022
Aires Gameiro