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Validar a informação na era da pós-verdade

Vivemos numa sociedade caraterizada pelo imediatismo. A informação é difundida de forma quase instantânea, muitas vezes sem haver qualquer controlo da sua propagação. E a partilha de diferentes conteúdos é feita das mais diversas formas, sobretudo através das redes sociais. A difusão faz-se, não raras vezes, sem reflexão sobre se os conteúdos proliferados são ou não nocivos, se podem ferir suscetibilidades ou se atacam a integridade das outras pessoas. Conectados por um elo emocional, tendo em conta crenças ou com o objetivo de proporcionar algum divertimento, de uma forma por vezes quase ingénua, partilhamos – com diferentes intuitos – vídeos, fotografias, memes, trends, notícias, anúncios, concursos, discursos, dramas, prosas, poemas, etc…Não tem nada de mal difundir estes conteúdos, mas convém, antes de o fazer, refletirmos. É que circula muitas vezes desinformação por falta de verificação e validação. Essenciais para não corrermos o risco de publicar e depois nos apercebermos de que, afinal, se tratava de informação falsa. Por exemplo, se se tratar de uma notícia, antes de a partilharmos, é essencial validarmos na medida do possível o seu conteúdo (por vezes, é possível fazê-lo através de plataformas de fact-checking), verificar o link do órgão de comunicação social, o autor, as fontes e as imagens. Também é importante ler todo o texto ou assistir a toda a peça antes de partilharmos ou comentarmos conteúdos. É que muitas vezes surgem nas redes sociais partilhas e comentários sobre o título apenas, sem se ter em conta a globalidade da notícia. Também é frequente fazerem-se interpretações erradas, o que pode resultar numa sequência de reações negativas e até mesmo gerar o denominado discurso de ódio, dependendo da temática em causa. Numa espécie de bola de neve, comentadores e utilizadores deixam-se levar pelas emoções e as dimensões podem atingir níveis impressionantes (e por vezes lamentáveis).Já se, por outro lado, a partilha for de uma fotografia, vídeo ou montagem divertida, importa questionarmo-nos sobre a veracidade deste e das potenciais consequências da sua divulgação. Será que a história é demasiado boa para ser verdadeira? Não custa muito pensar antes de reencaminharmos o conteúdo para uma extensa lista de contactos. Já agora: de nada serve partilharmos aqueles vouchers para ganhar o último modelo do iPhone ou 500€ em compras no Pingo Doce, pois também são fake news. Relembro que o termo inglês fake news pode ser muito mais abrangente se o entendermos para além da sua tradução literal, uma vez que abraça diferentes conceitos, nomeadamente notícias falsas, informações manipuladas, enganos, rumores, propagandas e anúncios publicitários com conteúdos falsos, entre outros. Mas, voltando ao que interessa, temos de ter consciência do papel que cada um de nós desempenha no combate à desinformação. Um simples exercício de reflexão antes de partilhar conteúdos pode ser determinante para evitar a propagação de fake news. É que os estudos comprovam que as fake news se espalham 70% mais rápido do que as notícias verdadeiras, conseguindo um alcance muito maior e tornando-se muitas vezes virais. Isto acontece porque estamos na era da pós-verdade. Uma mentira, ao ser apresentada como verdade e repetida muitas vezes, pode até passar a ser vista como verdade. No entanto, a pós-verdade não é mais do que algo apresentado como verdade, de uma forma subjetiva, aludindo a estratégias emocionais ou de manipulação para ser mais convincente. Desta forma, as fake news tornam-se virais sem ser examinadas ou confirmadas. E o pior é que é muitas vezes irreversível, na medida em que as consequências podem ser nefastas. Outro aspeto assustador é o facto de muitas pessoas preferirem consumir conteúdos que venham ao encontro dos seus pontos de vista, rejeitando mesmo outros por não se adaptarem aos seus conceitos ideológicos. Como tal, importa combater a desinformação, pensando um pouco antes de difundir conteúdos duvidosos. É essencial, portanto, verificar e validar, na certeza de que isto não impede a publicação de conteúdos igualmente interessantes e divertidos.