Rios secos e culturas mortas por seca que pode tornar-se a pior em 500 anos na Europa
Pó e milhares de peixes mortos cobrem agora a trincheira entre fileiras de árvores no que era o rio Tille, na aldeia francesa de Lux, exemplo da seca extrema em grande parte da Europa, que deve ainda piorar.
O Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia alertou esta semana que as condições de seca vão piorar e potencialmente afetar 47% do continente.
Há quase dois meses que não chove significativamente na Europa Ocidental, Central e do Sul e espera-se que o período de seca continue, naquilo que os especialistas dizem poder ser a pior seca em 500 anos.
Andrea Toreti, investigador sénior do Observatório Europeu da Seca, disse que a falta de chuva em 2018 foi tão extrema que não houve eventos semelhantes nos últimos 500 anos, "mas este ano, é realmente pior".
Nos próximos três meses, "vemos ainda um risco muito elevado de seca na Europa Ocidental e Central, bem como no Reino Unido", referiu Toreti.
Desde reservatórios secos e terra gretada em Espanha até à queda do nível das águas em grandes artérias como o Danúbio, o Reno e o Pó, uma seca sem precedentes está a afligir quase metade do continente europeu, a prejudicar as economias agrícolas, a impor restrições à água, a causar incêndios florestais e a ameaçar espécies aquáticas.
Na Grã-Bretanha tipicamente chuvosa, o governo declarou hoje oficialmente uma seca no sul e centro da Inglaterra, no meio de um dos verões mais quentes e secos de que há registo.
Enquanto caminhava no leito de rio de 15 metros de largura em Lux, Jean-Philippe Couasné, técnico-chefe da Federação Local de Pesca e Proteção do Meio Aquático, enumerou as espécies de peixes que tinham morrido no Tille.
"É de partir o coração", disse. "Em média, circulam cerca de 8.000 litros por segundo. ... E agora, zero litros".
Sem chuva, o rio "continuará a secar. E sim, todos os peixes vão morrer. ... Estão presos a montante e a jusante, não há água a entrar, por isso o nível de oxigénio vai continuar a diminuir à medida que o volume (de água) desce", disse Couasné. "Estas são espécies que vão desaparecer gradualmente."
A seca levou alguns países europeus a impor restrições ao uso da água, e o transporte marítimo está em perigo nos rios Reno e Danúbio.
O Reno, a maior via navegável da Alemanha, poderá atingir níveis criticamente baixos nos próximos dias. O nível das águas perto da cidade de Kaub deverá cair para 35 centímetros até terça-feira, alertou Bastian Klein, do Instituto Federal de Hidrologia alemão.
No Danúbio, as autoridades na Sérvia começaram a dragar para manter as embarcações em movimento.
Na vizinha Hungria, vastas partes do Lago Velence, perto de Budapeste, transformaram-se em manchas de lama seca, enlameando pequenos barcos.
Alguns troços do Pó, o rio mais longo da Itália, estão tão secos que barcaças e barcos que se afundaram há décadas estão agora visíveis.
Mesmo países como Espanha e Portugal, mais habituados a longos períodos sem chuva, registam consequências ímpares da falta de água. Na região espanhola da Andaluzia, por exemplo, alguns agricultores de abacate tiveram de sacrificar centenas de árvores.
Devido à seca, a produção de milho da União Europeia deverá ser 12,5 milhões de toneladas abaixo do ano passado e a produção de girassol deverá ser 1,6 milhões de toneladas mais baixa, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.
A Europa não está sozinha na crise, com as condições de seca também registadas na África Oriental, no oeste dos Estados Unidos e no norte do México.