Morreu o cartoonista francês Jean-Jacques Sempé, autor de 'O Menino Nicolau'
O cartoonista francês Jean-Jacques Sempé, conhecido pelas suas ilustrações em "O Menino Nicolau" e pelos seus desenhos humorísticos nos jornais, morreu hoje aos 89 anos, confirmou a sua mulher, Martine Gossieaux Sempé, à agência de notícias AFP.
"O desenhador de humor Jean-Jacques Sempé morreu de forma pacífica [hoje] à noite, 11 de agosto [de 2022], com 89 anos, na sua casa de férias, junto da sua mulher e amigos próximos", disse o seu biógrafo e amigo, Marc Lecarpentier, num comunicado enviado à AFP.
Jean-Jacques Sempé, em conjunto com o escritor René Goscinny, criou os desenhos de "O Menino Nicolau" na década de 1950 e foi autor de várias vinhetas de banda desenhada.
Nascido em Bordéus em 17 de agosto de 1932, Sempé, apelido com que assinou e pelo qual ficou conhecido, começou por publicar desenhos na imprensa regional antes de chamar a atenção de jornais internacionais como o "The New Yorker", para o qual traçou muitas primeiras páginas que contribuíram para a sua reputação internacional.
As suas ilustrações de Nova Iorque e Paris tornaram-se ícones dessas cidades nas últimas décadas, apesar de o cartoonista ter visitado a metrópole nova-iorquina apenas seis vezes nos 40 anos em que trabalhou com o "The New Yorker".
"A barreira do idioma é um problema sério para mim. Se eu falasse inglês, provavelmente teria ficado por lá, mas não falo nada. Não queria ser visto como um francês arrogante que só fala a sua língua", confessou em 2018 numa entrevista àquela publicação norte-americana.
Essa humildade também se refletia nos seus desenhos simples e minimalistas, mas carregados de emoção.
As suas primeiras páginas no "The New Yorker", hoje transformadas em pinturas e cartazes de arte e decoração, mostravam muitas vezes personagens cosmopolitas dominados pela solidão da grande cidade, onde o barulho e o trânsito não param.
Um cozinheiro a andar de bicicleta no meio das grandes avenidas de Nova Iorque, um funcionário de escritório a contemplar um quadro no meio de uma rua cheia de carros ou um ciclista a atravessar a ponte do Brooklyn são algumas das dezenas de primeiras páginas com as quais impôs o seu estilo.
As suas vinhetas também foram recorrentes no semanário francês "Paris Match", onde exibiu um humor discreto e inteligente, como na última ilustração que desenhou para o jornal, publicada na semana passada, na qual retrata uma mulher na relva e lhe diz: "Pensa em não me esquecer".
Nos seus desenhos, não eram só evidentes as aventuras de "O Menino Nicolau", a quem batizou em homenagem ao filho, mas também as criações de "Marcelino Calhau" ou de "Monsieur Lambert".
Jean-Jacques Sempé nasceu numa família humilde no departamento de Gironde, no sul de Bordéus, onde sonhava ser músico, mas, como o próprio dizia, "era mais fácil encontrar papel e lápis do que um piano".
Então, depois de deixar a escola aos 14 anos, Jean-Jacques Sempé começou a trabalhar após a Segunda Guerra Mundial como cartoonista em jornais.
"Nicolau" foi o primeiro protagonista de uma série de ilustrações publicadas na edição de domingo do jornal regional "Sud Quest". Foi assim que chegou aos olhos da mulher de um editor parisiense, que o leu nas férias em Arcachon e o entregou ao marido, da editora Denoël, que propôs à dupla criativa -- Sempé e Goscinny -- transformá-lo em livros.
"O Menino Nicolau" tornou-se num êxito mundial, vendendo cinco milhões de cópias antes de a aventura chegar ao fim em 1964, com o quinto volume. Mas a repercussão daquele menino de nariz redondo atravessou países e gerações até aos dias de hoje.