Moscovo recusa que Kiev seja representada na Rússia pela Suíça
A Rússia anunciou hoje ter recusado que a Suíça represente diplomaticamente Kiev em território russo, argumentando que Berna "perdeu o seu estatuto neutral" ao sancionar Moscovo pela sua ofensiva militar na Ucrânia.
Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros suíço anunciou que a Ucrânia desejava que a Suíça representasse os seus interesses na Rússia.
"Infelizmente, a Suíça perdeu o seu estatuto de Estado neutro e não pode agir nem como mediador, nem como representante dos interesses" ucranianos, declarou hoje à imprensa um porta-voz da diplomacia russa, Ivan Netchaïev.
O porta-voz confirmou que a Suíça tinha pedido o aval de Moscovo para ali representar os interesses ucranianos.
Mas condenou o apoio de Berna a Kiev e as sanções suíças impostas à Rússia, devido à invasão russa da Ucrânia.
"É completamente incompreensível que [um Estado] proponha uma mediação, uma representação ou outros serviços de boa-fé quando se comporta desta maneira", acrescentou Netchaïev.
Quando dois Estados cortam total ou parcialmente as suas relações, a Suíça, fazendo uso da sua neutralidade, está habituada a assumir uma parte das suas obrigações diplomáticas ou consulares.
A potência protetora permite aos Estados em causa manter um mínimo de relações e pode igualmente garantir a proteção consular aos cidadãos de um dos Estados no território do outro.
Foi no século XIX que a Suíça assumiu, pela primeira vez, o papel de potência protetora, representando em França os interesses do Reino da Baviera e do Grão-Ducado de Baden, durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871.
A atividade de potência protetora da Suíça atingiu o seu auge durante a Segunda Guerra Mundial, quando representou os interesses de 35 Estados.
O país alpino exerce atualmente menos de dez mandatos, um dos quais é o de representante dos interesses russos na Geórgia e dos interesses georgianos na Rússia desde 2009.
Representa igualmente os interesses do Irão no Egito desde 1979 e os do Irão no Canadá desde junho de 2019.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
A ONU confirmou que 5.401 civis morreram e 7.466 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 169.º dia, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.