Ai o vinho, meu bem, ai o vinho
- Eu chamei cá o meu vizinho, porque hoje sinto-me deprimido, triste, sozinho. Precisando de reanimar, ter uma pessoa para conversar.
- Se quer que lhe diga – não sei se é do dia – mas também estava a precisar de alguém para desabafar.
- O vizinho que aguarde aqui um bocadinho que vou buscar uma garrafa de vinho.
- Não se esqueça de trazer o “dentinho”.
- Antes do vizinho ter chegado eu já o tinha preparado. Tenho uns presuntos, umas miudezas e uns queijos, que o vizinho além de gostar ainda vai lamber os beiços.
- Acredito, o vizinho a arranjar essas coisas é um perito!
- Vamo-nos lá sentar, encher os copinhos e conversar.
- Nos fins-de-semana andam para aí umas festas, uns bailaricos, se quisermos passar um bocado ainda lá vamos com os amigos, mas durante a semana, raios parta o diabo, andamos desconsolados, não há nada para nos entreter ou algo de jeito para ver.
- Temos a televisão, aqui e ali ainda apresenta uns programas de diversão.
- Triste mediocridade. Já começa de manhã com aqueles programas de choramingueira, com as pessoas a contar o que de triste tiveram pela vida inteira. Nos telejornais, não há violência no mundo e desgraça, que não nos levem para dentro de casa, depois vêm as “novelas” de amores e traições, violência e confusões que até nos mexe com os “botões “e repetem aquilo 50 vezes para cá e para lá, que só não enlouquecemos, porque adormecemos no sofá.
- Pois, para não falar dos ditos programas desportivos que metem jornalistas, colaboradores e presumíveis “mercenários”, indivíduos que são pagos para dizerem bem dos seus clubes e mal dos adversários.
- Isso chega a ser repugnante. Nem no “fascismo” se esta “ alienação do povo” era tão grande.
- Oh, vizinho, deite aí mais um copinho e deixe cá ver um “dentinho”
Só mesmo com uns copos, é que todas estas desgraças não nos mexem cá com os “bofes”.
São incêndios, são assaltos, acidentes com carros, são mortos e feridos, desavenças entre mulheres e maridos, casos de imponência e riqueza a par de outros de fome e de pobreza, é aquela guerra selvagem, com todo o mundo a ver, onde um pode atacar e o outro só se pode defender, e para nos enfurecer é ver a Terra a tremer em vários lados, menos onde vivem aqueles bastardos.
- Oh, vizinho, deite para nós mais um copinho!
- É para já, vizinho. Mesmo como é que a gente aguenta isto sem um copo de vinho?
- Mas aquilo que dissemos não é tudo, se fosse só isto eramos uns sortudos!
É o polícia que prende e o juiz que desprende; são os corruptos, ladrões e vigaristas a se rirem de contentes.
- E quanto à SAÚDE, nem vale a pena falar. Aí do triste que não tenha dinheiro para se tratar.
- Vizinho, já “descarregamos” um bocadinho, o muito que ainda falta fica para outra data.
- Mesmo com esta coisa de copo a ti, copo a mim, os petiscos e a garrafa chegaram ao fim.
E como o vizinho não trouxe carro, pode ir para casa descansado.
- Nesse particular os bêbados estão salvaguardados. A Polícia tem ordens para avisar de véspera onde está e onde vão ter os radares ligados. Graças a Deus tem havido esse cuidado!
Juvenal Pereira