Extrema-direita italiana vê coerência na sua política externa e rejeita 'lições'
A líder da extrema-direita em Itália, Giorgia Meloni, defendeu esta quarta-feira que a postura pró-NATO e pró-União Europeia do seu partido Irmãos de Itália (FdI) é coerente, rejeitando as críticas do centro-esquerda dee uma "mudança cosmética" das raízes pós-fascismo.
Meloni referiu que não irá aprender 'lições' com o líder de centro-esquerda do Partido Democrático (PD), Enrico Letta, que a tinha acusado de tentar maquilhar as raízes do seu partido.
A líder do FdI, apontada como favorita para se tornar primeira-ministra em Itália, criticou também o acordo eleitoral de Letta com os pós-comunistas, noticia a agência ANSA.
"Não aceitamos lições daqueles que se colocam como paladinos da política pró-NATO, mas depois fazem pactos com a esquerda radical nostálgica pela URSS", salientou, numa referência ao acordo que Letta estabeleceu com a Esquerda Italiana (SI), um partido pós-comunista.
"Nós não precisamos de pó para nossa maquilhagem, enquanto você não seria capaz de encobrir as suas contradições com gesso", atirou ainda.
O próprio PD inclui ex-comunistas e ex-democratas-cristãos de esquerda.
Meloni, que na sua primeira entrevista em inglês, à Fox News, garantiu que teria orgulho em ser primeira-ministra, divulgou esta quarta-feira um vídeo à imprensa estrangeira em inglês, francês e espanhol, explicando que não há nostalgia do fascismo no seu partido.
E defendeu que a posição do FdI na política externa face ao Ocidente é "clara como a água", partilhando valores com os conservadores do Reino Unido, os republicanos dos EUA ou o Likud de Israel.
"Li que uma vitória dos Irmãos da Itália nas eleições de setembro seria um desastre anunciando uma mudança autoritária, a saída da Itália do euro e outras fantochadas desse género", realçou, assegurando que "nada disso é verdade".
A direita italiana relegou o fascismo à história há décadas, condenando sem ambiguidade a supressão da democracia e as leis vergonhosas contra os judeus.
Giorgia Meloni sublinhou também que o seu partido condenou "sem restrições a brutal agressão da Rússia contra a Ucrânia" e, em auxílio à oposição, fortalecendo "a posição da Itália nos fóruns europeus e internacionais".
O FdI ganhou popularidade por ser o único grande partido a não integrar o governo de unidade nacional do primeiro-ministro Mario Draghi, lançando criticas ao certificado de saúde da covid-19 e defendendo ações mais fortes sobre a imigração.
Meloni promete também retomar o poder da UE em fechar as fronteiras à "islamização" e combater os "lobbies LGBT".
O partido liderado por Meloni é membro do grupo do Parlamento Europeu que inclui o Vox da extrema-direita de Espanha e o partido Lei e Justiça da Polónia.
Mario Draghi presidiu a uma coligação de unidade nacional nos últimos 17 meses, desde fevereiro de 2021, quando foi indicado para gerir a crise da pandemia de covid-19 e a recuperação económica do país, após a queda do seu antecessor, Giuseppe Conte, líder do M5S, que esteve na base da atual crise política.
A coligação foi apoiada por praticamente todos os partidos com assento parlamentar, da esquerda à extrema-direita, exceto pelo movimento ultranacionalista de Giorgia Meloni.
No passado dia 14 de julho, Draghi anunciou que não queria continuar a governar sem o apoio do M5S, quando este partido se absteve num primeiro voto de confiança.
Nessa altura, o Presidente italiano, Sergio Mattarella, rejeitou o pedido de renúncia e pediu a Draghi para tentar novas soluções políticas, com o devido apoio no parlamento.
Na semana seguinte, Mario Draghi venceu uma segunda moção de confiança, mas perdeu o apoio de três dos partidos que apoiavam a sua coligação - o M5S, o Força Itália e a Liga - o que justificou uma nova visita ao Presidente, para lhe reiterar o pedido de demissão, que foi aceite, levando à antecipação das eleições.