China volta a ameaçar usar a força para controlar Taiwan
A China voltou hoje a ameaçar usar a força para dominar Taiwan, numa altura em que exercícios militares chineses ao redor do território elevaram as tensões para o nível mais alto em várias décadas.
Um comunicado difundido pelo Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado da China lembrou que Pequim deseja uma "unificação pacífica" com Taiwan, mas que "não promete renunciar ao uso da força militar" e "mantém todas as opções necessárias".
O comunicado surge após quase uma semana de exercícios militares em torno da ilha, que incluíram disparos de mísseis e incursões nas águas e espaço aéreo de Taiwan por navios de guerra e aviões da força aérea da China.
As acções interromperam voos e a passagem de navios de carga, numa região crucial para as cadeias de fornecimento globais, provocando forte condenação dos Estados Unidos, Japão e outros países.
O Governo chinês disse que as medidas foram motivadas pela visita a Taiwan, na semana passada, da Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.
Pequim considerou que a visita viola o princípio de 'Uma só China', segundo o qual existe apenas um governo legítimo de toda a China, e visto pelo regime comunista como uma garantia de que a ilha é parte do seu território e não uma entidade política soberana.
Taiwan considerou que a visita de Pelosi faz parte dos intercâmbios normais com outros países e que a China usou-a como pretexto para aumentar as suas ameaças.
Em conferência de imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, alertou na terça-feira que os exercícios militares reflectem as ambições da China de controlar grandes áreas do Pacífico ocidental.
Taipé conduziu também na terça-feira os seus próprios exercícios de autodefesa, simulando um ataque da China.
A estratégia de Pequim passa por controlar os mares do Leste e do Sul da China através do Estreito de Taiwan, impondo assim um bloqueio à ilha, para impedir que os EUA e os seus aliados na região ajudem Taipé, no caso de um ataque chinês.
Pequim prolongou os exercícios em andamento, sem anunciar quando terminam.
China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Os 23 milhões de habitantes da ilha opõem-se de forma esmagadora à unificação política com a China, preferindo manter laços económicos com o continente chinês e o 'status quo' de independência de facto.
No entanto, Pequim considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força caso a ilha declare independência.
Através de exercícios militares em larga escala, a China aproximou-se das fronteiras de Taiwan e pode estar a tentar estabelecer um novo normal, no qual controla o acesso aos portos e ao espaço aéreo da ilha.
Os EUA, o principal aliado e fornecedor de armas a Taipé, mostrou-se disposto a enfrentar as ameaças da China. Washington não tem laços diplomáticos formais com Taiwan, mas é legalmente obrigado a garantir que a ilha se pode defender e a tratar todas as ameaças contra o território como questões de "grande preocupação".
No entanto, Washington mantém uma ambiguidade estratégica sobre se enviaria forças militares caso a China atacasse Taiwan. O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse repetidamente que os EUA devem fazê-lo -- mas membros da Casa Branca rapidamente fizeram comentários contrários.
Além dos riscos geopolíticos, uma crise prolongada no Estreito de Taiwan -- uma via importante para o comércio global -- pode ter grandes implicações para as cadeias de fornecimento internacionais, numa altura em que o mundo enfrenta interrupções e incertezas, após a pandemia da covid-19 e a guerra na Ucrânia.
Em particular, Taiwan é um fornecedor crucial de semicondutores, componentes essenciais para a alta tecnologia.