Ex-presidente do México Luis Echeverría morreu sem ser condenado pelos massacres de 1968 e 1971
O ex-presidente do México Luis Echeverría Alvarez morreu na madrugada de sábado, aos 100 anos, e sem ter sido condenado pelos massacres de Tlatelolco, em 2 de Outubro de 1968, ou de San Cosme, em 10 de junho de 1971.
Círculos próximos da sua família confirmaram a morte, que ocorreu na sua casa de Cuernavaca, estado de Morelos, indicaram os 'media' mexicanos.
Echeverría ocupou a presidência do país de 1970 e 1976, mas foi no período em que ocupava o cargo de ministro do Interior que ficou para sempre associado ao massacre da Praça das Três Culturas, no bairro de Tlatelolco, na Cidade do México, dez dias antes do início dos Jogos Olímpicos que decorreram na capital mexicana.
Pelo menos 400 manifestantes foram mortos durante uma concentração estudantil, após serem atacados por militares e membros do grupo paramilitar Batalhão Olímpia, que mais tarde se comprovou estar dependente do Estado-Maior presidencial.
Echeverría foi investigado e levado a julgamento por genocídio, mas o caso foi concluído em 2009 com a sua absolvição e após a responsabilidade do massacre ser exclusivamente atribuída a Gustavo Díaz Ordaz (1911-1979), o seu antecessor na presidência.
No entanto, a deliberação judicial considerou que "não foi apresentada uma única prova documental que demonstrasse que Gustavo Díaz Ordaz tivesse dado ordens para exterminar o movimento estudantil".
Ordaz, que também colaborou com a CIA, os serviços de informações dos Estados Unidos, acabou por assumir "integralmente a responsabilidade pessoal, ética, social, jurídica, política histórica, pelas decisões do governo em relação aos acontecimentos" de 1968, mas nunca foi condenado.
Três anos depois, em 1971, e já com Echeverría na presidência, cerca de 230 estudantes, entre os 14 e os 22 anos, foram mortos durante uma manifestação na Avenida San Cosme, também na Cidade do México, pelo grupo paramilitar "Os Falcões", dependente do Estado e financiado pelo Estado.
Em 2005, uma decisão judicial pôs fim a qualquer possibilidade de processar os responsáveis por esta matança, mas todas as investigações indicam que foi Echeverría quem ordenou em 1966 a formação deste grupo paramilitar.
Membro desde 1946 do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que se manteve no poder no México entre 1929 e 2000, funcionado quase como um partido único, Echeverría também esteve envolvido no designado "golpe ao Excélsior", quando, em julho de 1976, um grupo de elementos da cooperativa e outros infiltrados enviados pelo Governo de Echeverría deram o "golpe final" à equipa que dirigia um dos jornais mais importantes da América Latina, o Excélsior, conhecido pela sua linha editorial independente dos poderes então dominantes.
No plano diplomático, apoiou de início a experiência do socialismo democrático no Chile e durante o seu mandato, cumprindo uma longa tradição do país, aceitou acolher exilados chilenos após o derrube de Salvador Allende pelo general Pinochet em setembro de 1973.
Pai de oito filhos, Echeverría foi embaixador do México na UNESCO em Paris, após deixar a presidência, e de acordo com documentos desclassificados também terá sido colaborador da CIA.
Apesar de passar à posteridade pela sua "guerra suja" contra os opositores políticos, o atual Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, proveniente de uma formação identificada com a esquerda, enviou em nome do Executivo "respeitosas condolências à família e aos amigos" do falecido e antigo líder do país.