Directores e pais concordam que notas numa prova não definem as melhores escolas
Diretores escolares e pais questionam a relevância dos 'rankings' das escolas, elaborados pela comunicação social com base em dados oficiais, e concordam que as notas dos exames nacionais não definem os melhores estabelecimentos de ensino.
Desde há duas décadas que, todos os anos, vários órgãos de comunicação social divulgam os 'rankings' das escolas, feitos a partir de dados solicitados ao Ministério da Educação sobre os resultados dos alunos nos exames nacionais e notas internas.
No dia em que são divulgadas as listagens feitas com base nas informações do ano passado, diretores escolares e pais reforçaram as críticas habituais, questionando a sua utilidade e relevância, uma vez que limitam a avaliação dos estabelecimentos ao desempenho dos alunos nas provas finais, ignorando vários outros fatores.
"Nós não preparamos os alunos para os 'penaltis', preparamos os alunos para terem sucesso no ensino superior e na vida", sublinhou o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
No entender de Filinto Lima, as melhores escolas não são necessariamente aquelas cujos alunos se saíram melhor durante a hora e meia do exame final, e fazer essa avaliação é "perverter tudo e tirar a verdadeira essência de uma escola".
"Se querem fazer um verdadeiro 'ranking', tenham em consideração quais são as escolas que melhor preparam os alunos para terem sucesso no ensino superior e o valor acrescentado por cada escola a esse aluno durante o seu percurso escolar", referiu, aconselhando os estabelecimentos de ensino a relativizar o resultado dos 'rankings'.
Lamentando que se insista neste tipo de avaliação dos estabelecimentos de ensino, Filinto Lima não vê qualquer utilidade nas listagens construídas pela comunicação social, pelo menos no seu modelo atual.
Da parte dos encarregados de educação, aqueles que acompanham os alunos em casa também têm reticências quanto aos 'rankings' pelos mesmos motivos, mas admitem que possam ser um ponto de partida para tentar melhorar.
"Já que são realizados, poderiam servir para uma melhoria contínua, para estudar as causas dos resultados e conseguirmos desenvolver medidas efetivas para garantir que todas são as melhores escolas, isso é que seria equidade", sugeriu Mariana Carvalho.
Ainda assim, a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) sublinhou que há mais aspetos que refletem a qualidade de uma escola e que vão além das notas dos exames, "ainda por cima avaliações realizadas sob 'stress'".
"Podemos dizer que são as que melhor prepararam aqueles alunos para o exame, mas podemos questionar se serão por isso melhores escolas", afirmou, questionando também se "serão estes os resultados das aprendizagens ao longo do ensino obrigatório".
Reconhecendo que o impacto destas listagens na escolha das famílias sobre a escola dos filhos é uma preocupação, Mariana Carvalho considerou que com a valorização crescente de outras competências estes 'rankings' vão também perdendo relevância.
"Acredito cada vez mais que as famílias e as crianças escolhem escolas onde se sintam bem, onde se sintam felizes e onde consigam aprender", disse à Lusa.
Além dos 'rankings', o presidente da ANDAEP comentou também os piores resultados nos exames nacionais em 2021, sobretudo na prova de Física e Química em que a média foi negativa, mas desvalorizou recordando que no ano anterior, em que as notas tinham subido, houve um enfoque particular na preparação para os exames depois de as aulas presenciais, interrompidas pela covid-19, serem retomadas a menos de dois meses da 1.ª fase.
Por outro lado, Filinto Lima admite que os resultados possam refletir igualmente as consequências de dois anos letivos em que as aulas foram, com frequência, à distância.