Rússia nega apresamento na Turquia de cargueiro com cereais ucranianos
A Rússia negou hoje que a Turquia tenha apresado um cargueiro russo que a Ucrânia denunciou que transporta trigo retirado ilegalmente do país, mas admitiu que as autoridades turcas estão a verificar o navio.
A Ucrânia disse que o cargueiro "Zhibek Zholy" zarpou do porto ucraniano de Berdiansk, ocupado pela Rússia, na quinta-feira, 30 de junho, carregado com 7.000 toneladas de trigo obtido ilegalmente, tendo pedido à Turquia que apresasse o navio.
"O navio encontra-se atualmente no porto [turco] de Karasu [no Mar Negro]. Os procedimentos normais estão em curso, incluindo um exame sanitário", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Alexei Zaitsev, citado pela agência francesa AFP.
Zaitsev disse que no final das verificações, "as autoridades turcas permitirão ou recusarão a entrada no porto".
"Não se trata de apresar ou parar o cargueiro", acrescentou o porta-voz, numa conferência de imprensa.
Uma fonte diplomática turca disse à AFP, na terça-feira, que estava em curso uma inspeção a bordo do cargueiro ancorado ao largo da costa da Turquia no Mar Negro.
O Governo russo reconheceu, na segunda-feira, que o navio tem bandeira russa, mas rejeitou qualquer ato ilícito.
"O navio parece ser russo e ostenta a bandeira russa. Penso que pertence ao Cazaquistão e a entrega inicial foi planeada ao abrigo de um contrato assinado entre a Turquia e a Estónia", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.
O Ministro da Indústria cazaque, Kairbek Uskenbayev, disse que o "Zhibek Zholy", propriedade da empresa ferroviária nacional do Cazaquistão Temir Zholy, tinha sido arrendado.
Apesar da pressão ucraniana, a Turquia, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), tem permanecido em silêncio desde sexta-feira sobre o navio.
A Turquia é considerada um aliado da Ucrânia e fornece-lhe 'drones' (aeronaves não tripuladas) de combate, mas tem o cuidado de manter uma posição neutra em relação à Rússia, da qual depende para os seus abastecimentos de gás.
De acordo com o portal especializado Marine Traffic, o navio de carga de 140 metros de comprimento ancorou a cerca de um quilómetro do porto de Karasu, a leste de Istambul.
O embaixador ucraniano em Ancara, Vasyl Bodnar, disse à televisão estatal ucraniana, no domingo, que o navio estava a ser retido pela guarda costeira turca.
A ONU tem estado a negociar com Moscovo, Kiev e Ancara um acordo que permita que os cereais deixem a Ucrânia em segurança e os fertilizantes russos regressem ao mercado internacional.
O acordo implica garantias militares da utilização do Mar Negro por navios civis.
O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse, na terça-feira, que pretende intensificar as negociações com a Rússia e a Ucrânia "dentro de uma semana ou dez dias".
A interrupção dos fornecimentos ucranianos e russos devido à guerra na Ucrânia, que a Rússia invadiu em 24 de fevereiro, criou o receio de uma crise alimentar a nível global.
A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de trigo, milho e óleo de girassol
A Ucrânia atribui a situação ao bloqueio naval russo dos seus portos, enquanto a Rússia considera que as minas marítimas ucranianas impedem as exportações agrícolas.
Na terça-feira, as autoridades pró-Moscovo de Zaporijia, cidade ucraniana controlada pelo exército russo, anunciaram um acordo para exportar cereais ucranianos para o Iraque, o Irão e a Arábia Saudita.