Começámos por querer ser a Singapura do Atlântico, um centro de exportação de inteligência para o mundo. A ideia parecia ter méritos, não fosse o pequeno detalhe de, na altura, mais de 55% da população madeirense ter menos do que o 9º ano de escolaridade. Morreu, claro, até porque não implicava nem alcatrão, nem cimento.

Depois, surgiu o projecto da nova Manhattan, uma zona de arranha-céus a conquistar ao mar, que iria transformar por completo a baía da cidade do Funchal. Devia ser porque, como estava, era feia ou desagradável… Esta ideia não sei se se finou ou se está em coma mas temo que alguém a vá recuperar, ainda.

Curiosamente e provavelmente inspirados pelo sempre presente desejo de querermos ser o que não somos, aparece agora o Dubai regional, um projecto desta vez privado que concorre para o mesmo fim: - imitar o que vem de fora é que é bom. E evoluído!

Para corrigir os constrangimentos que este cimento que brota do chão como banana de prata, a que deve juntar-se o projecto que vai nascer junto à Praia Formosa – aposto num nome tipo nova Tókio, até porque o “k” reforça o toque internacional – fala-se de um túnel a esventrar a cidade até São Gonçalo, mais uma daquelas ideias esdrúxulas que por acaso não consta de nenhum programa eleitoral. Deve ter surgido numa reunião do orçamento participativo…

“Residence resort & palace with gardens, spa, villas, cottages & views”. Assim mesmo, à inglesa que é mais fino; é vê-los por todo o lado! A que se juntam os “rooftops” que funcionam, alguns, mesmo com pareceres negativos da CMF que isto do cumprimento da lei é para pacóvios.

Resultado? Batemos o recorde de produção de cimento dos últimos 11 anos, segundo notícia do DN, o que penso prova à saciedade quão bem está a correr o processo de implementação do plano estratégico do turismo, aquele que aponta a Natureza como principal produto turístico…

Ao mesmo tempo, facto curioso, enquanto por todo o lado se repetem as reclamações sobre o excesso de carga em alguns locais, os últimos dados estatísticos disponíveis dizem-nos que o destino atingiu em Maio um acumulado de ocupação de 54%, com um RevPar de 47€. Imagine-se o que não será com mais gente a preencher todas estas camas disponíveis… Espectaculares, estes números e dignos do melhor destino insular, que tem ainda a melhor praia, o melhor porto e o mais belo viaduto, por aqui me ficando que os caracteres me impedem de continuar a dar exemplos. E faltam ainda os passadiços, as novas rotundas dos nossos autarcas, que estou certo muito em breve pulularão um pouco por toda a ilha.

O pior de todo este exercício de provincianismo, incapaz de perceber que é pela autenticidade e genuinidade que devíamos lutar, é que o melhor que conseguiram foi transformar a Região numa mini-Canárias… Com praias de areia amarela e tudo!