Análise

O futuro foi aquilo que se viu

Risonho não será se ficar nas mãos de quem politiza cooperação, fóruns e até aviões

Estamos em plena época do “Adeus tristeza” que Fernando Tordo imortalizou com a convicção, porventura ousada para os tempos que correm, já que, por força das circunstâncias, não serão muitos os que hoje se atrevem a assumir que o futuro será o que cada um quiser. Mas é neste Verão das canções e dos arraiais, dos comícios e dos reencontros que é fácil constatar que o amanhã não tem, em muitos domínios pessoais e colectivos, o encanto de outrora. Sobretudo por ser excessivamente previsível nas palavras e nos gestos daqueles que tudo partidarizam. A incapacidade em surpreender, dada a fidelidade cega a guiões desactualizados e a figuras, que apesar de respeitadas e com currículo público notável, deixaram de ser referência; a crescente apetência pela desvalorização dos méritos alheios, importando para as vertentes ainda bem lúcidas da sociedade o que há de mais irracional no futebol falado; a prolongada exposição a discursos repletos de boas intenções, mas sem efeitos práticos na vida dos cidadãos; as ideias pré-concebidas que fomentam críticas de baixo nível e deselegâncias institucionais, mau grado as eloquentes promessas de cooperação, foram bem evidentes nos comícios proferidos num Chão da Lagoa com menos gente, em algumas intervenções orquestradas no Fórum Madeira Global e sobretudo na hilariante novela em torno do voo directo entre Funchal e Caracas que o DIÁRIO noticiou em primeira mão na terça-feira passada.

Na festa do PSD-M, cada vez mais amarrado ao CDS, e talvez por isso incapaz de conter convulsões indisfarçáveis, foram nulas as ideias concretas capazes de garantir um futuro que motive os que não escondem desalento. É no que dá falar bem mais do PS do que do próprio partido, mais da República do que da Região - sabe-se bem a mando de quem -, de possíveis novas vitórias por parte de quem sempre ganhou do que sobre as derrotas que aqueles que sempre cantaram que põem a Madeira em marcha acumulam sempre que não pagam a tempo e horas, burocratizam em demasia

No momento de analisar o futuro da comunidade madeirense espalhada pelo Mundo, o conteúdo partilhado melhorou substancialmente, mesmo que os problemas de fundo, quase todos residentes em Lisboa, se mantenham, como assumiu o conselheiro na África do Sul, José Nascimento, já que há 30 anos que milhões de portugueses são esquecidos pelo mundo, sem ligações aéreas directas com a pátria, sem serviços do Estado quando mais precisam e sem carinho de quem ainda não percebeu Portugal é muito mais do que o rectângulo geográfico.

Mas bem pior foi o amuo do poder regional em relação a uma matéria que devia ser motivo de regozijo e que acabou numa briga por protagonismos, com algumas imprecisões pelo meio, expedientes que até podem comprometer a operação da euroAtlantic na ligação charter com a Venezuela. Quando a diplomacia portuguesa assume ter solução para o voo directo e o governo regional não só desconfia, como depois de pôr em causa a realização do voo, até diz mal dos aviões, omitindo que em tempos negociou a rota com a mesma companhia, mas sem sucesso, “o futuro foi aquilo que se viu”.