Análise

A cana e não o peixe

É certo que a retoma gerou mais emprego. O número de desempregados tem caído consideravelmente em relação ao pior da pandemia. Há, no entanto, como tem sido noticiado, uma grave carência de mão-de-obra em sectores chave da nossa economia, o que tem obrigado as empresas a recorrer ao exterior. No final de Maio havia 11.869 desempregados inscritos na Madeira. 58% sem direito a subsídio da Segurança Social. E isto deve-se a diversos factores, entre os quais processuais. No fim do mês passado, 5.173 pessoas auferiam do Rendimento Social de Inserção (RSI), subsídio que acode os casos de pobreza extrema e que aumentou ligeiramente face ao mês de Abril. Os beneficiários do RSI recebem uma média de 100 euros por mês, o que não garante sequer uma alimentação diária condigna. De acordo com a Segurança Social há um conjunto de apoios que são disponibilizados aos mais carenciados, que vai desde a alimentação à compra de medicamentos e outros bens essenciais. No universo dos desempregados subsiste o fenómeno social dos ‘nem-nem’, que são os que não trabalham nem estudam. No final de 2021, ascendiam a 10.500… Apenas 3.230 foram à procura de trabalho. Segundo dados da Direcção Regional de Estatística (DREM), 17,5% dos jovens não estudavam, não trabalhavam nem estavam em nenhum projecto de formação. Em Maio, 27% do total dos desempregados na Região eram jovens. Ora trata-se de um número elevado, numa terra com necessidade de braços de trabalho, em diversas frentes. É verdade que muitos desses empregos são mal remunerados, mas é sempre preferível ter uma ocupação, com possibilidade de crescimento profissional, do que permanecer à margem do sistema assistencialista, dependendo para tudo da protecção do Estado, quer dizer, dos contribuintes cumpridores. Há, de facto, uma franja considerável que vive de subsídios e que não tem realmente interesse no mercado de trabalho, porque encontra a satisfação para as suas necessidades junto da Segurança Social e de um conjunto de associações beneméritas, muitas delas até dinheiro disponibilizam. Muitos dos ‘nem-nem’ têm filhos, vivem em casa de familiares ou em bairros sociais, mas não têm horizontes nem projecto de vida. Fazem dos diversos apoios, que manipulam como ninguém, modo de vida e jogam nos diversos tabuleiros da solidariedade. Para não falar dos chico-espertos que trabalham mas não declaram, ou seja, oficialmente não têm rendimentos, mas depois fazem biscates aqui e ali, recebendo por vezes até acima da média porque acumulam os apoios sociais aos euros que entram por fora! Isso não pode ser permitido. Quem está apto tem de trabalhar e trabalhar no que for necessário, de acordo com as suas qualificações, que na maior parte dos casos são, infelizmente, baixas. Estas pessoas têm de ser chamadas para dentro do sistema e têm de ser questionadas sobre os verdadeiros motivos que invocam para não trabalhar. É que, nalguns casos, compensa mais não fazer nada do que esforçar-se pela remuneração mínima. O Estado social deve existir para quem dele efectivamente precise, para os casos de emergência, e não para alimentar vícios. A cultura da subsiodependência tem ser eliminada se queremos uma sociedade mais justa e equitativa, confrontada com uma escalada de preços sem precedentes, tornando o empobrecimento da classe média uma evidência cruel, com todas as consequências que daí advêm.

P.S: O pior da nossa democracia veio ao de cima esta semana. De forma despudorada, abjecta. Só o cinismo e o calculismo político permitem que o ministro das Infraestruturas se mantenha no poder, após o anúncio trapalhão do novo aeroporto de Lisboa. Não fosse ele representar uma enorme força dentro do PS e onde já estaria. Episódios deste calibre desacreditam fatalmente a classe política. Queixem-se, depois.