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Activistas insatisfeitos com resposta de Joe Biden à revogação do direito ao aborto

Foto EPA/JOHN SOMMERS II/POOL
Foto EPA/JOHN SOMMERS II/POOL

A resposta da Casa Branca à revogação do direito federal ao aborto, decidida pelo Supremo Tribunal há pouco mais de um mês, está a causar insatisfação e críticas por parte de ativistas e democratas. 

Em causa está a lentidão da resposta e os limites da sua abrangência, numa altura em que vários estados baniram completamente o acesso ao aborto na sequência da sentença Dobbs v. Jackson Women's Health Organization, que revogou o precedente Roe v. Wade. 

Apesar de ter sido criada em setembro de 2021 uma equipa de resposta à possível revogação do direito ao aborto, dentro do Gender Policy Council (Conselho de Política de Género), a ação pós-decisão foi considerada letárgica. 

O presidente Joe Biden demorou seis dias a declarar o apoio à mudança excecional das regras no Senado para aprovar legislação federal que proteja o direito ao aborto, e levou duas semanas a assinar uma ordem executiva com medidas para mitigar a revogação. 

A administração não declarou uma emergência de saúde pública nem avançou com o fornecimento de serviços abortivos em territórios federais, o que levou a críticas de que a ação está a ser mais fraca que o esperado. 

A organização Women's March (Marcha das Mulheres), criada originalmente em 2017 para protestar contra Donald Trump, iniciou uma petição neste sentido. "Estamos a pedir ao presidente Biden que declare um estado de emergência para proteger o acesso ao aborto", informou. 

A mesma organização anunciou esta semana que vai mobilizar "milhares" de pessoas para um "fim de semana de luta" com manifestações em Washington, D.C. e por todo o país, de 07 a 09 de outubro. 

Também esta semana, a Vanity Fair publicou um artigo citando o descontentamento de ativistas, as posições de oficiais da Casa Branca que falaram anonimamente e a visão de congressistas democratas. 

A tensão entre ativistas e a Casa Branca tinha atingido o pico quando a diretora de comunicação Kate Bedingfield criticou a ala mais à esquerda da base de apoio do partido Democrata, em declarações ao Washington Post. 

"O objetivo de Joe Biden na resposta a Dobbs não é satisfazer alguns ativistas que têm estado consistentemente fora de passo com a corrente dominante do Partido Democrata", declarou. "É ajudar as mulheres que estão em perigo e montar uma coligação de base ampla para defender o direito de uma mulher a escolher, tal como montou uma coligação para vencer na campanha de 2020".

Biden, que esteve em isolamento depois de testar positivo à covid-19, fez várias declarações sobre o aborto e a necessidade de eleger mais congressistas e senadores pró-escolha para poder codificar a legislação. 

As eleições intercalares de novembro vão decidir o Controlo do congresso e os republicanos já prometeram trabalhar para restringir ainda mais o acesso ao aborto se ganharem. 

Mas os analistas não estão certos que a questão do aborto seja a mais influente para os eleitores na hora de votar. 

"As pessoas têm memória curta e por pior que tenha sido a revogação de Roe v. Wade, em novembro as pessoas vão pensar em quanto gastam em gasolina, como está a inflação e as taxas de juro", disse à Lusa o cientista político Everett Vieira III. 

O reitor interino da Faculdade de Ciências Sociais na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, Jeffrey Cummins, também apontou para a economia e inflação como fatores mais relevantes. "Ainda não sabemos qual será o impacto da revogação do direito ao aborto", indicou. 

Por outro lado, o apelo reiterado ao voto caiu mal entre ativistas que apontaram para o facto de já ser previsível há algum tempo que o Supremo ia revogar o direito ao aborto. 

"É indesculpável para a liderança democrata saber há meses que isto ia acontecer e convocar uma resposta tão anémica", disse ao New York Times Stephanie Taylor, fundadora do Progressive Change Campaign Committee. 

Também a presidente da Women's March, Rachel O'Leary Carmona, criticou o apelo ao voto como refrão na resposta ao que está a acontecer. 

"Não nos digam para votar sem dizer qual é o plano", escreveu na sua conta de Twitter. "A reforma do Supremo está em cima da mesa? A codificação de Roe? Estamos a votar em quê?", questionou. 

"Se a vossa solução para o ataque aos nossos direitos é dizer às pessoas para votar mas não porque é que precisam de mais votos no Congresso e o que farão com mais votos, então essa não é uma boa receita para incentivar à participação", considerou, noutra publicação. 

A Women's March também tem mantido a pressão. "Caros democratas: vocês disseram-nos para votar. Demos-vos a Câmara, o Senado e a Presidência", salientou. "Quando votarmos novamente em novembro, é bom que tenham um plano incrível para restaurar os nossos direitos humanos fundamentais".