Binter: um péssimo cartão de visitas
– É a primeira e a última vez que venho ao Porto Santo, disse Fátima revoltada.
Foi desta forma que conheci esta nortenha e o seu marido, pessoas habituadas a passear pelo mundo. Estavam, como eu e mais cerca de 60 passageiros, revoltados pelo cancelamento do voo NT 932 da Binter, que deveria ter partido do Funchal em direção ao Porto Santo, às 20h30 da passada sexta-feira, dia 22 de julho.
Infelizmente, não foi um simples cancelamento: foi um insulto aos direitos fundamentais dos passageiros e à inteligência de cada um de nós. Na verdade, a Binter tratou os seus clientes como mentecaptos que não raciocinam e que não entendem o que os rodeia. Como se percebe que, depois de ter aterrado o voo que vinha das Canárias, ainda que com um atraso significativo, por ter divergido para o Porto Santo, por razões do vento que se fazia sentir; depois de terem dado indicações para embarcar na porta 3; depois de mais de 40 minutos de espera nessa porta de embarque, tenham comunicado, pela sistema de som:
– A Binter informa que, por razões climatéricas, o voo para o Porto Santo está atrasado. Serão prestadas novas informações, mais tarde.
Eram quase 23h. Informações, nunca mais. Houve, sim, grande agitação dos funcionários da Groundforce na porta de embarque 3, para lidarem com a revolta dos passageiros e tentar minimizar os danos.
Seguiram-se duas horas de tensão. Felizmente, aos passageiros doentes, grávidas e seus familiares foi prestado a ajuda mínima, nomeadamente alojamento. Eram cerca de 20. Os outros, novos ou idosos, mais ou menos cansados, foram abandonados à sua sorte, já a madrugada tinha começado.
Foi nesse momento que conheci Fátima e José António, o casal do Norte que tinha, por razões de segurança, decidido dormir no aeroporto e viajar de táxi, às 6 da manhã para apanhar o barco. Mais tarde, enquanto escrevíamos as reclamações, conheci um casal dos Açores, Conceição e António, que se tinham levantado às 5 da manhã para viajar para o Funchal. Também eles tinham decidido dormir no aeroporto e, no dia seguinte, decidir o que fazer, porque só lhes tinham marcado viagem para o Porto Santo no domingo. Uns e outros nunca tinham visitado o Porto Santo e estavam ansiosos por o fazer, mas estavam desiludidos.
Como podiam estas pessoas dormir no aeroporto? Gente insensível, corações empedernidos, humanizem-se!
Razões climatéricas, àquela hora? Como, se, em pouco mais de 1 hora, todos os aviões que aguardavam em terra levantaram voo e se, logo de seguida, houve várias aterragens. Mau tempo seletivo que afetava só o avião da Binter ou areia para os olhos e anestesia para o cérebro dos passageiros?
Senhores da Binter, cumpram a legislação em vigor e indemnizem os afetados, tanto mais que muitos, como eu, tiveram de viajar de barco, porque viagem garantida de avião só no domingo, já que, nos dois voos de sábado, não havia lugar senão para cerca de metade dos 60 afetados.
Senhores da Binter, o que interessa apregoar viagens para Marraquexe, se tratam mal os que cá estão e se afastam turistas da ilha dourada?
Senhores governantes, está aí o novo concurso para o serviço público da linha do Porto Santo, não se iludam com viagens a Marrocos, exijam, isso sim, qualidade aos prestadores de serviços, sobretudo quando se trata de um serviço público pago com os nossos impostos.
Francisco Oliveira, residente no Porto Santo