"Se os europeus não investirem em África, os chineses investem"
O presidente do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank) alertou hoje que se as empresas europeias não investirem no continente de forma a potenciar o desenvolvimento económico, as empresas chinesas ocuparão o seu lugar.
"A relação com a Europa é baseada na economia; precisamos uns dos outros, não pode ser uma relação condescendente; a razão para o acordo de livre comércio continental africano [AfCFTA] é aumentar o poder de negociação e fortalecer as nossas cadeias de valor, tornando-as mais atrativas para os investidores; se os europeus não vierem, vêm os chineses", disse Benedict Oramah.
Falando durante o painel sobre 'Geopolitics: New Map', no âmbito da quinta edição do Fórum Eurafrica, que decorre hoje e sexta-feira em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, o presidente do Afreximbank defendeu também a necessidade de aumentar a produção dos produtos e matérias-primas africanas, dando o exemplo dos fertilizantes e dos alimentos.
"A produção alimentar no continente tem de ser aumentada e o conhecimento do que cada país faz tem também de ser aumentado porque a situação atual é que, na verdade, produzimos mais fertilizantes do que o que consumimos, mas por causa da fragmentação da informação, muitos países dependem de fertilizantes importados", vincou o banqueiro.
De acordo com os dados transmitidos à Lusa pelo Afreximbank, o continente africano exportou, em 2020, cerca de 11 mil milhões de dólares (10,8 mil milhões de euros) de fertilizantes, tendo importado o equivalente a 5 mil milhões de dólares, cerca de 4,9 mil milhões de euros.
Na intervenção no fórum, Oramah lembrou o lançamento de uma plataforma que permite a disponibilização da informação sobre os produtos disponíveis para exportação e mostrou-se otimista sobre o futuro.
"Desde pequeno, sempre ouvi dizer que África tem muito potencial, e cheguei à idade adulta, e África continua a ter muito potencial, mas nunca mais vejo o potencial a transformar-se em realidade", lamentou, concluindo que, com esta e outras iniciativas, "o potencial de África vai, desta vez, transformar-se em realidade a sério".
A quinta edição do Fórum Eurafrica está organizado em torno de cinco eixos e conta com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dos presidentes de Portugal, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e de vários empresários e banqueiros portugueses e africanos.