Oposição acusa instância eleitoral de falsificar resultados do referendo
A Frente da Salvação Nacional (FSN), uma coligação de partidos da oposição na Tunísia, acusou hoje a instância eleitoral de ter falsificado os números sobre a taxa de participação, ao considerar que o referendo do Presidente Kais Saied falhou.
Na segunda-feira decorreu um referendo sobre uma nova Constituição, muito contestada a nível interno, e que concede vastas prerrogativas ao Presidente da República. A maioria dos principais partidos da oposição, incluindo o movimento político islamita Ennahdha, boicotaram a consulta.
De acordo com o Isie, a instância responsável pela organização do escrutínio, votaram mais de 27 por cento dos 9,3 milhões de eleitores inscritos.
"Os números divulgados pelo Isie foram ampliados e não correspondem ao que foi verificado pelos observadores nas diversas regiões", afirmou em declarações aos 'media' Ahmed Néjib Chebbi, dirigente da FSN.
Esta instância internacional "não é íntegra nem imparcial" e "os seus números são falsificados", acusou.
"A única referência de legitimidade no país é a Constituição de 2014 e Kais Saied deve abrir caminho para a realização de eleições presidenciais e legislativas" antecipadas, prosseguiu.
Na perspetiva do dirigente da oposição, a fraca taxa de participação no referendo, que segundo indicou foi boicotado "por dois terços" dos eleitores inscritos, constitui a prova "do falhanço do golpe de Estado de Kais Saied".
Para os apoiantes de Saied, o referendo manifestou, pelo contrário, um largo apoio ao chefe de Estado.
Os primeiros resultados oficiais do referendo deverão ser divulgados na tarde de hoje, mas segundo o instituto de sondagem Sigma Conseil, o "sim" obteve 92,3% dos votos.
Ainda segundo Chebbi, o profundo envolvimento do Fundo Monetário Internacional (FMI) com o atual poder irá originar turbulências sociais e políticas.
Para evitar uma falha de pagamento de dívida, e confrontada com uma crise económica, o Governo de Saied pediu um novo empréstimo ao FMI.
Eleito em 2019, Saied decidiu assumir todos os poderes em julho de 2021. Ao justificar um bloqueio político-económico, despediu o seu primeiro-ministro e suspendeu o Parlamento, antes de o dissolver em março. Na sua perspetiva, o referendo sobre uma nova Constituição constitui o prolongamento da "correção do rumo" iniciado há um ano.