É preciso se educar para poder servir

O que somos nós todos enquanto professores, médicos, políticos, polícias, juízes, jornalistas, advogados?

Somos simplesmente bons ou maus naquilo que fazemos. Não, por natureza, mas por formação. Só depois de “formatados” candidatamo-nos, prestamos provas e somos, ou não, admitidos nas profissões e, ou, ofícios. Está é (seria) a ordem natural das coisas, muitas vezes subvertida por outros contornos menos claros. É a partir daqui que passamos a ser bons ou maus profissionais. Talvez alguns já o fossem antes, mas ninguém (sabe-se lá porquê) percebeu ou não quis perceber. O problema reside na selecção ou recrutamento de profissionais, cujos critérios de admissão têm uma relação distante com competência e aptidão para o exercício de funções a desempenhar. Colocar pessoas em lugares ou cargos para os quais não estão vocacionadas incorre-se no risco de desencadear erros crassos, de consequências imprevisíveis, nalguns casos.

A questão é que isto é transversal a todas as profissões, independentemente da actividade e do local em que laborem e é mais comum do que seria desejável. Incidentes desagradáveis podem rapidamente transformar - se em problemas e embaraços de alguma gravidade. Alguns erros de percurso podem levar a traumas psicológicos ou mesmo físicos. Pedir desculpa não é suficiente, se se continuar reiteradamente com o mesmo comportamento. Há vítimas do preconceito e da arrogância daqueles que acreditam ser superiores a todos ao seu redor, que fazem “gato sapato” dos seus subalternos, porque erradamente lhe foi entregue uma “chave de comando”, talvez por intervenção de uma cultura de influência e abuso de poder. Invariavelmente, estes “crimes” acabam sempre sem castigo.

Erros todos nós cometemos e errar é humano, mas repetir falhas e não aprender com elas é sinónimo de incompetência, tanto mais quando há indícios de negligência. Eu erro muito. Quase todos os dias, para ser mais específica. Mas durmo com a consciência tranquila de que as minhas faltas não levaram ninguém ao desespero, nem contribuíram para o agravamento de situações de saúde já de si delicadas.

Vivemos uma pandemia de estupidez, da falta de educação, da falta de disciplina, da falta de profissionalismo, da falta de humanismo, da crise de valores, do respeito, da cidadania e da solidariedade. Contudo, há atitudes intoleráveis, inadmissíveis e injustificáveis.

Há bons, muito bons e excelentes profissionais em todos os sectores de actividade mas, infelizmente, são a excepção do que deveria ser a regra.

P. S. Esta carta, à laia de desabafo, não é em abstracto, mas baseada nalguns casos que têm vindo a público e de outros que, provavelmente, permanecerão no “segredo dos deuses” , por motivos óbvios.

Madalena Castro