Quadros de mérito académico
Numa Escola que se diz ser inclusiva, que acolhe diferentes alunos de diferentes proveniências sociais, com diversas capacidades e competências, não se entende porque se insiste nos quadros de mérito académico nas escolas públicas.
O que os quadros de honra fazem é colocar em escala quantitativa os alunos que apresentam caraterísticas que se enquadram num padrão de escola-tipo, definida segundo critérios que não correspondem à diversidade preconizada pelos vários documentos estratégicos nacionais: perfil do aluno, definição de aprendizagens essenciais; estratégia de educação para a cidadania, nem se coaduna com o conceito de escola inclusiva e solidária. Em qualquer um destes documentos fundamentais não existe a palavra mérito ou competição, muito associadas a sociedades liberais.
Os quadros de honra são, como se compreende, motivo de orgulho para as respetivas famílias, que acabam por se ver representadas nos pódios. Talvez, por isso, não sejam contestadas, porque para uns importa que existam; e para outros, a maioria, que nunca figurarão nos quadros de mérito académico, nem se atrevem a contestar.
E quem não nasceu com qualidades para se destacar dos outros academicamente? E o que sentem todos os cerca de 95% de crianças e jovens que nunca figurarão num quadro de mérito académico? Que motivação poderão ter com isso? E quem não tem a felicidade de nascer num ambiente intelectualmente estimulante que promova o desenvolvimento integral do jovem e potencie as suas qualidades? Há quem pense que o mérito se obtém sozinho. Errado. Podemos nascer com determinados dons e capacidades, mas isso, por si só não garantem o sucesso, nem a felicidade. O contexto, as oportunidades e os estímulos dão contributos importantes para nos formarmos como cidadãos realizados e se obter bons resultados.
Cada um tem os seus dons e a escola deve potenciar os de cada um, principalmente daqueles que não têm o estímulo em casa. E quando falamos de uma escola pública, por maioria de razão, pois acolhe muitos alunos de famílias tão diversas e de contextos dispares.
Uma sociedade que se quer tolerante e inclusiva deve sustentar os seus princípios em práticas coerentes que procurem atingir esses objetivos que defende.
A Escola constitui-se como o ambiente privilegiado para o desenvolvimento intelectual, mas acima de tudo humano e cívico. A premiar e louvar, louve-se os atos de solidariedade e responsabilidade; os atos de coragem e de esforço individual; as ações de interajuda e cooperação; as ações de bondade e de altruísmo. Só assim, teremos cidadãos comprometidos com a sua comunidade e com o Mundo.