ONU é responsável por garantir o cumprimento do acordo dos cereais
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referiu esta sexta-feira que a ONU é responsável por fazer cumprir o acordo assinado entre Kiev e Moscovo para o desbloqueio dos cereais nos portos ucranianos.
"Todos entendem que a Rússia se pode envolver em provocações, tentativas de desacreditar os esforços ucranianos e internacionais. Mas confiamos na ONU. Agora, é responsabilidade desta garantir o cumprimento do acordo", atirou o chefe de Estado ucraniano no seu discurso diário em vídeo.
A Ucrânia e a Rússia assinaram hoje acordos separados com a Turquia e a ONU para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais presos nos portos do Mar Negro.
Numa cerimónia realizada no Palácio Dolmabahçe, na cidade turca de Istambul, com a parceria da Turquia e da ONU, foram assinados dois documentos - já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia - devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.
Para Volodymyr Zelensky, o acordo "corresponde plenamente aos interesses da Ucrânia", acrescentando que os militares ucranianos controlam "a 100% todos os acessos aos portos".
Segundo o Presidente da Ucrânia, o acordo permitirá a exportação de cerca de 20 milhões de toneladas da colheita do ano passado, bem como a do ano em curso.
"Trata-se de rendimento para os agricultores, todo o setor agrícola e o orçamento do Estado. São empregos. Agora temos cerca de 10.000 milhões de dólares em cereais", apontou.
"Há uma hipótese de reduzir a gravidade da crise alimentar causada pela Rússia e evitar uma catástrofe global, uma fome que pode levar ao caos político em muitos países do mundo, especialmente naqueles que nos ajudam", acrescentou.
Zelensky vincou ainda que esta negociação é "uma nova demonstração de que a Ucrânia é capaz de resistir" à invasão russa.
Já o ministro da Infraestrutura ucraniano, Olexander Kubrakov, garantiu que a Ucrânia está pronta para retomar as exportações "em poucos dias", em declarações à televisão nacional ucraniana.
Olexander Kubrakov também realçou que o acordo foi assinado nos termos dos ucranianos e que não "houve traição".
O acordo de Istambul inclui dois documentos: um sobre as exportações de cereais da Ucrânia e outro sobre a exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos.
Depois de dois meses de duras negociações, os documentos visam criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.
O acordo implica também que passe a ser feita uma inspeção dos navios que transportam os cereais, para garantir que não levam armas para a Ucrânia.
Estas inspeções, que serão realizadas tanto à saída como à chegada dos navios, deverão acontecer nos portos de Istambul.
Nos portos ucranianos há cerca de 20 milhões de toneladas de cereais e sementes de girassol que não podem ser comercializadas devido ao bloqueio do mar Negro desde a invasão russa da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro.
"Acreditamos que vai ter um impacto positivo no mercado global e que vai ajudar a reduzir a insegurança alimentar em várias partes do mundo, não só na Europa", sublinhou Kirby, que considera este acordo um bom sinal, apesar de estar dependente da sua implementação e efeitos.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 5.100 civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar russa causou a fuga de mais de 16 milhões de pessoas, das quais mais de 5,9 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A organização internacional tem observado o regresso de pessoas ao território ucraniano, mas adverte que estão previstas novas vagas de deslocação devido à insegurança e à falta de abastecimento de gás e água nas áreas afetadas por confrontos.
Também segundo as Nações Unidas, mais de 15,7 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.