Conversa de velhos

- Ai Joaquim, eu não sei o que vai ser de ti e o que vai ser de mim.

- Oh, homem, acalma o” miolo”, se andares a te lamentar, ainda vão dizer que estás tolo.

- Eu que acreditei tanto naquela revolução, finalmente ia ter orgulho do meu país, desta nação, mas afinal, mudaram as moscas mas a porcaria é igual.

- Meu amigo, isto é como é, temos que ser em tudo como São Tomé. Ver para crer.

- Se estávamos “floridos”, continuamos “floridos”. Estás-me entendendo, amigo?

- Não sou assim tão “patarata” para entender pouca palavra basta.

- Eles dizem que não, mas é a pura da verdade. Estamos pagando bem caro a LIBERDADE.

- É verdade.

- Tudo o que de mau tínhamos no antigamente, temos no presente.

- Mas com acrescento! Naquele tempo se não houvesse respeito, havia medo ou, no fundo, as duas coisas em conjunto, e muitos arruaceiros antes de fazerem o que queriam pensavam primeiro.

- Exatamente. Até mesmo a escumalha de “colarinho branco” havia, mas não eram tantos.

- Tens razão, este país está destravado e não há quem ponha travão.

- Olha esta desgraça de pegar lume na serra. Antigamente todo o homem andava de “acendedor” no bolso mas era para acender o cigarro e não para incendiar a floresta.

- Isto como vai, até na desgraça há quem ache graça. Este País está entregue à “bicharada”.

-Pois, e o pior é que não se pode fazer nada. Para trás não queremos voltar, para a frente não se sabe o que vai dar,- se bem que seja fácil imaginar- o melhor, na nossa idade, talvez seja aguentar.

- Pena tenho destas gerações mais recentes. Vão ter a mesma sorte que os seus avós tiveram antigamente.

- Olha, o que eu digo aos meus netinhos agora, é que vão desde já rezando à Virgem, Nossa Senhora, e a Deus, para que este País nunca perca o seu “padrinho europeu”, porque se ele decide nos largar não há ninguém que no futuro os possa salvar.

- Ah,sim, contando com as cabeças dos “Santos da casa “ o seu futuro é a fome e a desgraça. Eles tiveram tudo na mão e está à vista de toda a gente a triste (mas escondida) situação.

- Este nosso e triste País devia ter sofrido à nascença qualquer tipo de maldição!

- Ah, outra coisa que eu te queria falar e da cabeça já me ia passar. Morreu um tipo qualquer de Angola. Quem era, afinal, esse estarola?

- Cuidado, tem respeitinho por esse senhor, ele foi um grande LIBERTADOR! Depois que tomou conta dessa colónia portuguesa, transformou-a num País, implantou uma democracia de raiz, mais tarde derivou para um socialismo/comunismo, digno de ser visto. A esmagadora maioria daquele povo, ao longo dos seus 38 anos de mandato, viveu sempre como um povo afortunado.

- Agora, aqueles – após a nossa Revolução – que o apoiavam de microfones na mão, não os vejo, neste momento, a lamentarem o seu falecimento.

- Bom, alguns após o “negócio da Independência fechado “ já partiram para o outro lado, prestando contas a Deus ou ao diabo, restam agora uns tantos ignorantes que nessa altura andavam atrás dos altifalantes.

-Entendo. Bom, amigo, já falamos um bom bocado, até a próxima, deixa cá ver um abraço.

Juvenal Pereira