A água e a sua sustentabilidade
Recentemente foi notícia a escassez de água para produção de energia hidro-eléctrica. Também se noticiaram os problemas de fornecimento de água na Ponta do Sol em virtude de um aumento anormal do consumo, com um acréscimo de 15% por comparação com período homólogo do ano anterior. Estes sinais fizeram-me escrever esta reflexão: é de todos sabido que a água é um bem essencial, cada vez mais escasso, conforme mostram os registos de precipitação nas estações meteorológicas do IPMA – Madeira. Todavia, este recurso precioso, para satisfazer as diversas necessidades, tem de ser utilizado de forma racional e criteriosa. E se são de enaltecer todos os investimentos que se tem feito tendentes a criar bacias, lagoas e represas que armazenem água para estações do ano mais deficitárias, para produção de energia verde e para necessidades básicas de consumo e regadio, vejo outros investimentos paralelos, estruturais, que me preocupam, por exigirem uma utilização excessiva de água, normalmente associados a empreendimentos imobiliários, normalmente associados ao luxo. Nada tenho contra o luxo, se não interferir com a sustentabilidade dos recursos naturais. Porém, na actual conjuntura, é norma qualquer empreendimento novo de habitação colectiva prever construção de piscina comum. São também inúmeras as casas luxuosas que se vão erguendo por aí que, sistematicamente, oferecem piscinas generosas, amplas e até infinitas. Se abastecidas por água do mar, nada a opor. Mas recorrem à água da rede que, nesta ilha, é cada vez menos abundante, porque a precipitação tem diminuído, ano após ano. O mesmo recurso, em menor abundância, para mais necessidades, pode não dar para todos. Primeiro sacrificado será a agricultura. Se se investir em mais captação em nascentes, ribeiras ou outros cursos de água, o sacrificado será o ambiente, os ecossistemas naturais, particularmente os ripícolas cuja água que naturalmente corre nos seus leitos, é essencial para a sua conservação, porque há flora e fauna únicas a eles associados. Podemos e devemos investir na redução das perdas em espaço urbano. É suficiente? Note-se que, se forem perdas em espaços naturais, não são efectivamente perdas. É um recurso que a vegetação utiliza. Iremos continuar a autorizar a construção de piscinas por tudo quanto é lado? E até quando permitiremos esta proliferação? Até termos escassez que irá comprometer irremediavelmente a nossa agricultura, os nossos espaços naturais e a nossa paisagem? Quiçá o fornecimento das nossas casas. Não deveríamos agir o quanto antes, para inverter esta tendência e assegurar a sustentabilidade deste recurso vital?
Duarte Olim