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O verão do nosso descontentamento (2)

Diz o povo com a sua habitual sapiência: “fama sem proveito faz dor de peito”;

Ah, meu rico verão,

chegadinho há um mês

vá, volta-te para mim

que agora é a minha vez!

(Professor anónimo)

Diz o povo com a sua habitual sapiência: “fama sem proveito faz dor de peito”; dizem alguns sem capacidade para rimas e muito menos para sabedorias subtis: os professores têm três meses de férias. Bem sabemos que contra preconceitos pouco valem argumentos sábios e fundamentados, por isso não vale a pena contrariar o que é tido por dogma insofismável dos que enchem o seu vazio interior com causas alheias.

Serve este introito para deixar bem claro que o que se segue não é um exercício argumentativo com vista à conversão dos incrédulos e contumazes mas, tão só, um abrir da porta do mundo dos professores e dos educadores para além do trabalho direto com os alunos e as crianças, especialmente do que é feito nos meses de junho e julho. É certo que cada uma das atividades referidas não implica a participação de todos, mas, dada a sua diversidade, a maioria acaba por ver a sua carga de trabalho aumentada, neste período do ano.

A listagem que se segue, apesar da sua extensão, não esgota a realidade, tanto mais que cada uma das entradas não espelha a densidade de cada uma delas:

- reuniões de avaliação;

- registo das aprendizagens significativas;

- preenchimento dos processos dos alunos e crianças;

- entrega das avaliações aos encarregados de educação;

- relatórios dos alunos e crianças com medidas especiais;

- acompanhamento e relatório de estágios dos cursos profissionais;

- elaboração das provas de equivalência à frequência;

- reuniões de grupos e de departamentos;

- reuniões de conselhos pedagógicos ou de conselhos escolares;

- escolha de manuais;

- atividades do secretariado de exames;

- elaboração de matrizes de provas dos módulos em atraso dos cursos profissionais;

- vigilância de exames e provas globais;

- classificação de exames e provas globais;

- matrículas e renovação de matrículas;

- constituição de turmas;

- elaboração dos horários para o ano seguinte;

- avaliação dos projetos curriculares de turma;

- relatório/balanço da avaliação por disciplina;

- relatório/balanço das atividades pedagógicas dos departamentos curriculares;

- propostas de medidas de suporte à aprendizagem e inclusão para o próximo ano letivo;

- relatório do plano anual de atividades;

- balanço dos projetos, clubes e outras atividades da escola;

- relatório da avaliação do projeto educativo;

- relatório individual das atividades desenvolvidas;

- relatório de avaliação da escola;

- relatórios dos cargos de gestão intermédia;

- inventários de instalações;

- relatório de autoavaliação;

- avaliação dos relatórios de autoavaliação;

- formação contínua obrigatória;

- atividades da secção de avaliação;

- festas e viagens de finalistas;

- …

É caso para parafrasear o grito de revolta do grande Camões:

Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.