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Viver com inflação não é fácil!

“Viver com 700 Euros” é o nome de um episódio do programa “Linha da Frente” que foi apresentado na RTP no dia 23 de junho e que está disponível na web. Neste episódio acompanhamos o dia a dia de uma auxiliar de restauração e do seu filho de 9 anos. Vemos e sentimos a sua luta diária para conseguir que o ordenado mínimo que recebe chegue para pagar as contas até ao fim do mês … os apoios a que recorre, as privações que passa e os apoios a que não tem direito porque a sua situação não se enquadra nos limites dos chamados “mais necessitados”.

São imagens, preto no branco, da coragem e da força que as pessoas que ganham o salário mínimo têm que ter para não desistirem e continuarem a viver. Apesar de todos os seus esforços o dinheiro não chegou ao fim do mês e teve de pedir emprestado 15€.

Com uma inflação na ordem dos 8%, esta auxiliar de restauração vai ver que o cabaz que comprava mensalmente vai custar muito mais e, não tendo possibilidade de reduzir o seu consumo, ainda vai chegar ao fim do mês a ter de pedir emprestado maior valor, enquanto houver quem lhe empreste, depois não sei o que vai ser dela, do filho e de tantos como ela que ganham o salário mínimo.

A inflação é o aumento generalizado dos preços, medido pelo valor de um cabaz indicativo do consumo dos portugueses. Este aumento dos preços faz com que o montante gasto por mês por uma família aumente, se mantiverem o seu nível de consumo. Para algumas famílias, como a que referida no episódio não há solução a não ser tentarem reduzir o seu consumo (mas como?) para outras que têm poupanças vão utilizá-las enquanto vão alterando o seu consumo de modo que volte a estar de acordo com o seu rendimento.

Como durante a pandemia as famílias portuguesas pouparam mais do que habitual, tem-se verificado a utilização das poupanças conseguidas para se manter o nível do consumo. Isto é possível no curto prazo, mas no longo prazo haverá que diminuir o consumo ou aumentar os rendimentos.

É provável que algumas empresas ou o Estado consigam aumentar os salários que pagam, mas dificilmente os aumentos serão de modo a compensar totalmente o aumento do custo de vida.

A inflação é diferente da diminuição do rendimento porque quando houve a diminuição do rendimento, as poupanças não perderam valor; para quem tinha poupanças estas continuavam a conseguir comprar o mesmo. Com a inflação as poupanças perdem valor, pois só conseguem comprar menos e os aforradores, que durante anos se habituaram a preços quase constantes, têm de repensar o modo como gerem as suas poupanças.

Viver com inflação é difícil para quase todos, por isso a importância das decisões do Banco Central Europeu cuja missão é missão a estabilidade dos preços. Nesta altura faço votos que tomem, atempadamente, as decisões corretas.