Governo reforma com soluções gradualistas sem alimentar divisões
O ministro da Cultura considerou hoje que o Governo responde com soluções gradualistas aos problemas estruturais do país e, numa linha de demarcação face à direita política, acentuou que o executivo atua sem procurar alimentar divisões.
"É um Governo que não alimenta divisões. Aliás, já passou o tempo em que se punham uns contra os outros, novos contra velhos, funcionários do setor privado contra funcionários públicos, tratando grupos de trabalhadores inteiros como bode expiatório", declarou Pedro Adão e Silva no encerramento do debate sobre o estado da nação na Assembleia da República.
Na sua intervenção, o ministro da Cultura recusou a ideia de que o executivo esteja enclausurado na sua maioria absoluta, salientou o princípio da abertura ao diálogo e defendeu a tese de que "as reformas que perduram, aquelas que mudam o país, não são as que são feitas contra as pessoas, mas as que assentam no diálogo social".
"Não confundimos o mandato que temos para governar com um Governo enclausurado na sua própria maioria. É nossa missão unir e mobilizar as energias do país", sustentou.
Segundo Pedro Adão e Silva, no atual período histórico "cheio de adversidades", o seu Governo tem como missões, simultaneamente, "modernizar o país e proteger as pessoas".
"Não disfarçamos as dificuldades, mas também não as tememos. Já foi assim quando ninguém acreditava que fosse possível ter as contas certas, gerir os riscos do sistema financeiro e pôr o emprego a crescer. Já foi assim na pandemia, com determinação e serenidade. E foi assim também nestes últimos dias, face a uma vaga de incêndios de contornos preocupantes", exemplificou.
Neste contexto, Pedro Adão e Silva advogou que este é um Governo "com energia reformista -- mas a medida de uma boa reforma não é o descontentamento social".
"Pelo contrário, uma boa reforma é aquela que resiste ao tempo e que não é revogada à primeira oportunidade. Para os problemas do país, é preciso ter respostas construídas passo a passo, com o empenhamento de todos. Essa é a nossa ideia de reformismo. Para problemas estruturais, soluções graduais e ação concreta", frisou.
Depois, o ministro da Cultura citou mais de uma dezena de medidas tomadas pelo seu Governo nos últimos três meses e meio, o que motivou uma breve interrupção por protestos ruidosos de deputados da oposição.
"Vão permitir-me a referência, mas tudo isto me faz lembrar a velha rábula dos Monty Python", realçou.
De acordo com o membro do Governo, "tirando um Orçamento do Estado e um acordo de parceria com a Comissão Europeia; tirando as medidas para conter o aumento dos combustíveis e da eletricidade; tirando o reforço do rendimento dos mais vulneráveis; tirando a valorização das qualificações; tirando uma reforma administrativa profunda, que descentraliza competências; tirando um acordo de mobilidade que responde às necessidades do mercado de trabalho, tirando isso -- o que é que o governo fez pelo país em 100 dias?", questionou.
O ministro da Cultura advertiu também que o compromisso do seu executivo não é apenas com o tempo curto, já que o horizonte de ação é 2026.
Destacou, também, que esta é uma legislatura de responsabilidade acrescida também porque neste período se cumprem 50 anos do 25 de Abril.
Perante os protestos da bancada do Chega, Pedro Adão e Silva disparou: "Eu sei que os senhores vivem desconfortáveis por a democracia ter 50 anos, é da vida".
"Temos hoje um Portugal muito mais moderno, com mais inclusão social, com gerações mais novas muito mais qualificadas, um país muito mais inserido no contexto europeu e internacional. Já percorremos um longo caminho", observou.
No entanto, para o titular da pasta da Cultura, Portugal ainda precisa de convergir com os países mais avançados da Europa, de ser mais competitivo e mais inovador.
Como desafios, apontou também a dignificação o trabalho, a valorização das qualificações, uma melhor proteção dos mais idosos e maior coesão territorial.
"Da nossa parte, temos a energia necessária para fazer face às dificuldades e a vontade essencial para conduzir as mudanças de que o país precisa. Mas a maioria de diálogo conta com todos", acrescentou.