Síria corta relações com Kiev após reconhecer repúblicas separatistas do Donbass
A Síria anunciou hoje o corte de relações diplomáticas com a Ucrânia, três semanas depois de Kiev ter feito o mesmo, após o regime de Damasco ter reconhecido a independência das repúblicas separatistas do Donbass.
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores sírio, citada pela agência de notícias oficial, SANA, disse que o país "decidiu romper relações diplomáticas com a Ucrânia, de acordo com o princípio da reciprocidade e em resposta à decisão do Governo ucraniano".
Em 29 de junho, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou o corte de relações diplomáticas com a Síria.
"Não existirão mais relações entre a Ucrânia e a Síria", garantiu Zelensky num vídeo divulgado na plataforma de mensagens Telegram, onde afirmou também que "a pressão para sanções" contra Damasco, aliado da Rússia, "será ainda maior".
Horas antes, a Síria tinha-se tornado o primeiro país estrangeiro a reconhecer a independência das repúblicas separatistas pré-Rússia de Donetsk e Lugansk, apoiadas por Moscovo desde 2014. Desde então, só a Coreia do Norte tomou o mesmo passo.
A chefe da diplomacia de Donetsk, Natalia Nikonorova, tinha dito, um dia antes, que as relações do território com a Síria estão a desenvolver-se em vários campos.
"Os dois países estão a cooperar em muitos campos, incluindo a educação, medicina e ciência, bem como o desenvolvimento das relações políticas entre ambos", afirmou Nikonorova, citada pela agência de notícias russa TASS e pela SANA.
Em 16 de junho, o Presidente sírio, Bashar al-Assad, recebeu uma delegação de representantes da Rússia e de Donetsk em Damasco para discutir a situação na região do Donbass.
Durante a reunião, as duas partes discutiram a possibilidade de intensificarem as relações e a delegação entregou a Al-Assad uma carta do líder da autoproclamada república de Donetsk, Denis Pushilin, sobre o processo.
Antes de Damasco, apenas a Rússia tinha reconhecido, em fevereiro, a independência dessas duas regiões, localizadas no leste da Ucrânia, poucos dias antes de iniciar a invasão ao país.
Esta não é a primeira vez que a Síria manifesta o seu apoio a territórios previamente reconhecidos como independentes pela Rússia, tendo acontecido o mesmo, em 2018, com as regiões separatistas da Abkhazia e da Ossétia do Sul, na Geórgia.
Síria e Rússia são países aliados há várias décadas, mas os laços foram recentemente fortalecidos pelo conflito sírio e pela intervenção militar de Moscovo no mesmo, ao lado do regime de Bashar al-Assad.
Desde o início da guerra na Ucrânia, Damasco tem mantido uma posição oficial de apoio absoluto à invasão, considerando ser necessário "restaurar o equilíbrio" do poder mundial.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de cinco mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar russa causou a fuga de mais de 16 milhões de pessoas, das quais mais de 5,7 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
Também segundo as Nações Unidas, 15,7 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.