País

Bolsonaro lança dúvidas sobre urnas electrónicas perante embaixadores

None
Foto AFP

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro recebeu hoje cerca de 40 embaixadores estrangeiros e voltou a lançar dúvidas em relação às eletrónicas, considerando ainda ter havido falhas nas eleições presidenciais de 2014 e 2018.

O Brasil a eleições em outubro e Jair Bolsonaro, que aspira a renovar o seu mandato nessas eleições, está a liderar uma campanha para desacreditar as urnas eletrónicas, que têm sido utilizadas no país desde 1996 e não foram até agora objeto de uma única queixa de fraude.

A reunião de hoje, que contou também com a presença do embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos, foi realizada na residência presidencial e transmitida nas redes sociais pelo próprio Bolsonaro, que insistiu na sua campanha para desqualificar o sistema de votação eletrónica.

Este encontro surge cerca de um mês e meio depois de o Supremo Tribunal Eleitoral ter também organizado um encontro com embaixadores no país para garantir a fiabilidade das urnas eletrónicas utilizadas no país.

Hoje, Bolsonaro apresentou documentos da Polícia Federal referentes a uma investigação realizada alguns meses antes das eleições de 2018 devido a alegados ataques de hackers ao sistema.

"Um hacker disse que tinha havido fraude nas eleições. Falou que o grupo dele tinha invadido o TSE, o Tribunal Superior Eleitoral", afirmou, acrescentando que "até hoje esse inquérito não foi concluído".

O sistema de justiça eleitoral e a própria Polícia Federal concluíram que a tentativa de invasão não teve sucesso e não teve influência nas eleições desse ano, nas quais Bolsonaro foi eleito Presidente na segunda volta, embora o próprio mantenha que ganhou na primeira volta.

Na sua apresentação aos diplomatas, contudo, o Presidente brasileiro insistiu que as eleições de 2018 "não foram totalmente transparentes", que a investigação do que aconteceu nesse ano "não foi concluída" e que o sistema de votação brasileiro "não é auditável".

Citou também alegadas irregularidades em 2014, quando a então Presidente Dilma Rousseff foi reeleita por uma margem de três pontos percentuais contra o social-democrata Aécio Neves.

"Em 2014 também houve uma dúvida grave, quem ganhou as eleições? Foi também bastante curioso", disse.

O líder brasileiro reiterou também as suas críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), citando que alguns dos seus membros são também membros do Supremo Tribunal e "devolveram direitos políticos" ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o favorito a vencer as eleições de outubro.

Bolsonaro aludiu a uma decisão do Supremo Tribunal que, no início de 2021, anulou as condenações contra Lula por alegada corrupção devido a inconsistências legais detetadas no processo.

"Deixo claro quando se fala em ministro Fachin, ele foi o responsável por tornar Lula elegível", afirmou Bolsonaro, referindo-se presidente do TSE, Edson Fachin, que tem sido alvo de ataques constates por parte do Presidente brasileiro.

Bolsonaro também insinuou mais uma vez que alguns dos membros do sistema de justiça eleitoral e do Supremo Tribunal têm "ligações claras" com "a esquerda".

O líder brasileiro disse ainda ter feito várias iniciativas para tornar o processo "transparente", mas que o TSE não aceitou nenhuma das suas sugestões, entre as quais a ajuda das forças armadas no processo eleitoral.

Bolsonaro defendeu que, juntamente com as urnas eletrónicas, deveriam também ser utilizados boletins de voto, a fim de comparar resultados e assegurar a "fiabilidade" do processo, embora essa sugestão tenha sido rejeitada categoricamente pelo parlamento.

Bolsonaro está há vários meses em guerra aberta com o TSE e mais precisamente com o seu presidente, Edson Fachin.

Nos últimos meses, além de insistir que o sistema de votação eletrónica do país não é confiável, Bolsonaro tem intensificado os ataques a magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), tem dito que não respeitará determinadas decisões judiciais e tem pedido, repetidamente, a participação de militares no apuramento dos votos.

Nos últimos meses, tem havido um crescimento de vozes de analistas, de instituições e organizações que procuram chamar a atenção para o facto de Jair Bolsonaro estar a inflamar a base de apoio e a criar bases para 'uma invasão do Capitólio', como aconteceu nos Estados Unidos.