A Guerra Mundo

Zelensky procura reforçar fileiras enquanto Rússia ataca incessantemente

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Foto AFP

Enquanto a Rússia mantém os bombardeamentos incessantes contra toda a Ucrânia, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, parece apostado em ganhar força internamente, depois de ter demitido altos dirigentes pelo alegado "mau desempenho" na limpeza de "traidores" das instituições.

Com a substituição do chefe dos serviços de segurança ucranianos (SBU), Ivan Bakanov, e da procuradora-geral, Iryna Venediktova, vão arrancar investigações e substituições internas nessas instituições, assegurou esta segunda-feira o vice-chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, Andriy Smirnov.

"[Após] Seis meses de guerra, continuamos a descobrir muitas dessas pessoas [colaboradores com a Rússia ou traidores] em cada uma dessas agências", realçou Andriy Smirnov.

Os analistas apontaram que esta medida visa fortalecer o controlo de Zelensky sobre o Exército e as agências de segurança lideradas por pessoas nomeadas antes da guerra.

Zelensky "precisa de uma procuradoria [geral] eficaz e uma agência SBU [eficaz]", destacou Volodymyr Fesenko, analista político do 'think tank' Penta Center, à agência Associated Press (AP).

"Nas condições de uma guerra, Zelensky precisa de líderes que sejam capazes de lidar com várias tarefas ao mesmo tempo -- resistir às intrigas da Rússia dentro do país para criar uma quinta coluna, estar em contacto e coordenação com especialistas internacionais", insistiu Fesenko.

Bakanov e Venediktova ocupavam posições-chave nos esforços da Ucrânia para se defender da invasão russa e responsabilizar os atacantes russos pelos crimes contra civis durante a guerra, que começou em 24 de fevereiro.

O antigo responsável da SBU é amigo de infância de Zelensky e ex-parceiro de negócios, que o próprio chefe de Estado nomeou.

Mas Bakanov estava sob crescentes críticas por violações de segurança desde o início da guerra e surgiram relatos, nos últimos, meses de que Zelensky pretendia substituí-lo.

Já Venediktova, a primeira mulher a atuar como procuradora-geral da Ucrânia, conquistou elogios internacionais pelo seu trabalho incansável para reunir provas contra o Presidente russo Vladimir Putin e autoridades e comandantes militares russos sobre a destruição de cidades ucranianas e o assassinato de civis.

A ex-professora de direito, de 43 anos, abriu milhares de investigações criminais e identificou centenas de suspeitos, entrevistando vítimas e coordenando esforços com doadores e autoridades estrangeiras.

Quando assumiu o cargo, em 2020, Venediktova tinha como meta impor reformas para conter a ineficiência e a corrupção naquela instituição.

Zelensky assinou esta segunda-feira um decreto a nomear o primeiro vice-chefe da SBU, Vasyl Maliuk, como diretor interino da agência, depois de ter feito o mesmo com a Procuradoria-Geral.

Com 39 anos, Maliuk é conhecido por seus esforços para combater a corrupção nas agências de segurança e a sua nomeação é vista como parte dos esforços de Zelensky para se livrar de funcionários pró-Rússia dentro do SBU.

"Maliuk estava a lutar contra a corrupção dentro da SBU, então tem dados comprometedores de muitos membros da equipa e pode controlar o pessoal, muitos dos quais estão a olhar na direção da Rússia", considerou o analista político Vadym Karasiov, chefe do Instituto de Estratégias Globais, em declarações à AP.

Também Volodymyr Fesenko apontou que o descontentamento com os dois funcionários estava a ganhar forma há algum tempo e que é possível que parceiros ocidentais da Ucrânia tenham apontado o baixo desempenho do SBU e do gabinete do procurador-geral a Zelensky

Enquanto decorre a reorganização dos altos cargos ucranianos, a Rússia mantém os seus ataques, que, segundo as autoridades ucranianas, foram planeados para intimidar a população e semear o pânico.

O gabinete presidencial da Ucrânia referiu esta segunda-feira que o bombardeamento russo no domingo matou pelo menos quatro civis e feriu mais 13, afetando cidades e vilas em sete regiões.