África está mesmo aqui ao lado…
O soft power cultural sempre existiu. Da Dior à Louis Vuitton, da H&M à Zara, das semanas de moda ao artesanato, a moda tem vindo a renovar as inspirações africanas. Filmes como o musical de Beyoncé produzido pela Disney, Black is King, é uma celebração daquela África sonhada em linha com o sucesso global de Pantera Negra, que contou com atores africanos premiados em Hollywood como Lupita N’yongo e Daniel Kaluuya. Na indústria da música, artistas nigerianos como Burna Boy, Davido e Wizkid assinaram com a Sony, ganharam prémios Grammy e foram apresentados na posse do presidente Joe Biden. O compromisso do continente e da NBA com a nova Basketball Africa League, ou BAL, mostra a forte crença no uso do desporto como motor de crescimento em vários setores.
Em 2050, uma em cada quatro pessoas na Terra será africana. A população de África será cinco vezes maior do que a da América do Norte e da Europa. A classe média deverá crescer de 355 milhões em 2010 para 1,1 bilhão em 2060. O futuro é por isso africano.
No entanto, as indústrias culturais e criativas africanas enfrentam uma infinidade de desafios. As indústrias criativas africanas representam menos de 1% do PIB africano ou seja deficitário perante o crescimento demográfico e só por isso representa uma enorme oportunidade para nós Portugueses. As indústrias culturais e criativas africanas precisam de apoio para melhorar o trabalho incrível que já está sendo feito pelos criativos, porque aqueles nesta indústria fazem o trabalho por conta própria com pouco apoio.
As Indústrias Culturais e Criativas Africanas podem fornecer uma plataforma para resolver conflitos, aumentar o turismo, combater as mudanças climáticas, apoiar o Estado de Direito, diversificar as economias, criar novas infraestruturas, aumentar as oportunidades de media e tecnologia e mudar narrativas desatualizadas. África poderá beneficiar do investimento dos EUA nos seus mercados culturais e encontrar maneiras sem precedentes de aprimorar os seus excepcionais patrimónios históricos e culturais, permitindo-lhe aproveitar os seus pontos fortes atuais (crescimento económico digital e o dinamismo de uma juventude urbana e empreendedora) para incorporar uma África inovadora, mas a Europa e em particular Portugal não se devem pôr de lado desta enorme oportunidade.
Cabe à Europa e principalmente a Portugal pela sua influência geo estratégica e linguística nos Países de Língua Portuguesa, que representam cerca de 250 Milhões de pessoas a falarem o Português, estarem atentos aos indicadores e trabalharem em proximidade e de acordo com este exponencial crescimento, criando programas especiais. Os “encontros” que temos vindo a promover juntamente com o Governo Regional da Madeira (SRTC), trazendo interlocutores dos vários países de língua Portuguesa, têm revelado o enorme potencial de trabalho em rede e de mercado atlântico na área das indústrias criativas.
É neste foco geo estratégico que devemos caminhar, unindo o triângulo atlântico da Europa, Africa e América, tendo as nossas ilhas atlânticas um papel preponderante no futuro deste crescimento.
Enquanto África está a passar por uma revolução cultural excepcional, há uma infinidade de desafios que as indústrias culturais e criativas enfrentam neste atlântico lusófono e os diálogos de alto nível e conversas críticas em torno das muitas oportunidades, caminhos e desafios desta imensidão que são a a cultura e indústrias criativas atlânticas podem-se vir a revelar um mar de oportunidades para o futuro e para as novas gerações .