Mundo

Cinco ex-funcionários dos serviços de informação são condenados à morte na Gâmbia

None
Foto: Reuters

Um tribunal de Banjul condenoou na quarta-feira, após um julgamento de cinco anos, a penas de morte contra o ex-chefe e outros quatro funcionários da Agência Nacional de Informação (NIA) da Gâmbia, noticiou hoje a agência de notícias AFP.

O Supremo Tribunal de Justiça de Banjul condenou à morte o responsável da NIA, Yankuba Badjie, o ex-chefe de operações, Sheikh Omar Jeng, e três outros ex-funcionários da agência, Babacarr Sallah, Lamin Darboe e Tamba Mansary.

No entanto, as suas sentenças serão convertidas em prisão perpétua, uma vez que a Gâmbia adotou uma moratória às execuções.

Quando a justiça da Gâmbia considerou cinco ex-funcionários do serviço de informação culpados pelo assassínio do seu pai, Muhammed Sandeng disse que sentiu algo sem precedentes, entre "plenitude e alívio", em declarações hoje à AFP.

Ebrima Solo Sandeng, figura do Partido Democrático Unido (UDP) sob a ditadura do ex-Presidente Yahya Jammeh, morreu sob custódia em abril de 2016 nas instalações da NIA.

A tortura e o assassínio deste ativista, dois dias após a sua detenção durante uma manifestação, galvanizaram a oposição, até então fraca e dividida, e precipitaram a queda do ditador que governava a Gâmbia desde 1994

De acordo com Abdoulie Fatty, advogado gambiano, este caso marcou "o começo do fim" para o ditador, acusado de ter orquestrado uma série de crimes durante os seus 22 anos no poder, entre desaparecimentos forçados, assassínios, violações ou assédio aos meios de comunicação.

O assassínio de Ebrima Solo Sandeng encorajou notavelmente a oposição política a unir-se em torno de Adama Barrow, que derrotou Yahya Jammeh nas eleições de dezembro de 2016.

Quanto aos cinco funcionários sentenciados esta semana, estes "simbolizavam a ditadura de Jammeh - o NIA simbolizava a ditadura de Jammeh", declarou Fatty.

Estas condenações representam um passo importante para a restauração da verdade, de acordo com várias outras vítimas da 'era Jammeh' que aguardam ansiosamente por justiça para todos.

O caso de Solo Sandeng é uma exceção: até agora, é um dos dois únicos julgamentos realizados em conexão com as atrocidades cometidas sob o regime de Jammeh.

Após a sua abertura, o Ministério da Justiça optou por aguardar as conclusões da Comissão da Verdade, Reconciliação e Reparações (TRRC) antes de iniciar novas investigações.

Em maio, após a divulgação do relatório final da TRRC, o Governo prometeu processar o ex-Presidente Yahya Jammeh, que vive exilado na Guiné Equatorial, e mais de 200 outros acusados de abusos dos direitos humanos.

Para os grupos de vítimas, que são céticos, essas promessas permanecem incertas.

"Enquanto isso, os aliados de Jammeh ocupam posições de poder na Gâmbia", disse Nana-Jo N'dow.

O Presidente Adama Barrow, reeleito em dezembro, formou uma aliança política com o antigo partido de Jammeh no ano passado e, desde então, nomeou dois de seus partidários como presidente e vice-presidente do parlamento.

No final de maio, Barrow visitou a Guiné Equatorial, mas houve pouca menção a Jammeh durante as suas conversas com o Presidente Teodoro Obiang, segundo um porta-voz do Governo.

O Estado disse que contratou advogados estrangeiros e gambianos para trabalhar no julgamento do ex-presidente e, em meados de junho, o Ministério da Justiça anunciou que todos os funcionários nomeados no relatório da TRRC seriam suspensos.

No final de junho, no entanto, o procurador-geral disse a uma comissão parlamentar que o Governo atualmente não tem recursos financeiros para implementar as recomendações da comissão.