Crónicas

Burlas online e instituições de crédito

Esta semana um amigo próximo relatou-me uma história na primeira pessoa ( com factos e provas ) que penso merecer ser partilhada porque estas linhas também devem servir para isso, alertar e chamar à atenção para casos perigosos que infelizmente se vão tornando comuns um pouco por toda a parte. Ao pesquisar na Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal, disponível na internet, os seus créditos bancários, porque está a pedir um crédito bancário por conta de uns investimentos que precisa de fazer, encontrou uma surpresa daquelas que ninguém gosta de encontrar. Qual não foi o seu espanto, quando viu registado no Banco de Portugal um crédito em incumprimento, feito em Janeiro, no valor de 1800€ que deveria ter sido pago em 4 prestações e das quais só teria sido paga a primeira, tendo a instituição financeira onde fio realizado, enviado a respetiva informação, passando ele a figurar na lista negra e por isso impedido de pedir qualquer outro crédito bancário.

Atónico com o que havia acabado de ver, tentou contactar a respetiva instituição mas o telefone tocava, tocava, tocava mas ninguém atendia. Chegou ( segundo o próprio ) a estar 40 minutos a ouvir música mas do outro lado nada. Enviou então um email, para o contacto de suporte da instituição, a contar o que tinha acabado de ver e a pedir esclarecimentos urgentes. Enquanto isso fez uma breve pesquisa no Google e percebeu que casos iguais ao seu ou parecidos apareciam “em barda”, com pessoas a queixarem-se de custos e créditos que nunca haviam feito e que nem imaginavam que existiam. Assustado e alarmado com a situação, insistiu várias vezes com a chamada telefónica e após algumas tentativas frustradas lá lhe atenderam mas disseram que nada podiam fazer pelo telefone nem lhe prestar qualquer tipo de informação, teria que enviar um email para um endereço especifico, com a exposição detalhada do caso e que aguardasse resposta.

Assim o fez e valha a verdade pouco tempo depois recebeu um telefonema da instituição bancária, que para que fique bem claro detém uma licença do Banco de Portugal e foi aí que percebeu que alguém com a cópia do seu cartão de cidadão ( segundo a instituição ), com um email que não é o seu, nem tão pouco o contacto telefónico ou a morada da qual nunca ouviu falar, fez um crédito desse valor, em seu nome e comprou material informático numa empresa de nome PC Diga. Foi aí que teve a certeza que havia sido burlado e assim o reportou à senhora do outro lado da linha. Ela, muito solicita aconselhou-o a fazer queixa numa esquadra de Polícia e remeter a referida para o seu email para que a área do contencioso pudesse proceder à investigação e se fosse caso disso, pedir o levantamento da queixa ao Banco de Portugal. Assim o fez e segundo a mesma senhora assim foi feito pela instituição estando nesta fase à espera de avaliação o que pode demorar 2 meses, tempo em que o meu amigo não poderá proceder ao pedido de crédito que necessita.

Isto levanta-me à partida diversas questões e é um sério aviso para todos nós. Primeiro, como é que uma cópia do cartão de cidadão de uma pessoa que nunca o perdeu vai parar às mãos erradas? Só me ocorre alguém mal intencionado numa recepção de um hotel, numa loja de telecomunicações ou repartição pública para o fornecer. Depois como é que uma instituição de crédito com licença do Banco de Portugal acede a realizar um crédito sem uma assinatura, sem a presença física ou sem comprovar que os dados estão corretos? Segundo a polícia onde o meu amigo foi fazer queixa, as mesmas sucedem-se a um ritmo galopante sem que alguém faça algo sobre o assunto. Estas instituições querem é meter o dinheiro a circular e detêm um seguro para o mesmo, compensando pelos vistos as perdas sem que isso lhes estrague o negócio.

É um sério aviso para todos nós, sobretudo para as pessoas que regulam as leis no nosso país. Para todos nós porque devemos estar permanentemente atentos e vigilantes porque os perigos espreitam a cada esquina e sem darmos conta podemos estar metidos em sarilhos. Porque cada vez as compras online são mais recorrentes e cada vez é mais frequente serem-nos pedidos os nossos dados para as referidas contas sem que saibamos quem os vai gerir e para onde são vendidos. Para os reguladores porque pelos vistos a proteção de dados ainda se revela muito insípida e pouco consequente. Estejamos todos atentos a este tipo de situações porque elas serão cada vez mais regulares e provavelmente todos nós passaremos por elas pelo menos uma vez na vida. À conta disto o meu amigo não vai conseguir pedir o seu crédito em tempo útil e com isso perderá a hipótese de realizar o investimento que pretendia. As instituições vão assobiando para o lado e o Banco de Portugal vai continuando a fazer vista grossa. Para que conste e que não se lancem suspeitas sobre todas, falo da Oney Bank cujo fundador foi a Auchan e que é responsável por diversos cartões de empresa. Muito cuidado e talvez seja hora de irem dar uma espreitadela à referida Central de Responsabilidades do Banco de Portugal, não vão vocês encontrar uma surpresa parecida.