Análise

Desvarios partidários

Ninguém sabe quem são os deliquentes do PSD nem o que leva o PS a voltar a brigas redutoras

Tomámos nota de alguns momentos que retratam o estado de alma dos partidos com mais responsabilidades na vida política regional e constatamos haver um claro desfasamento entre as vistosas manobras de diversão e a pacata realidade. Vamos por partes.

1. Miguel Albuquerque foi ao Conselho Regional do PSD ameaçar expulsar do partido aqueles que provocam confusões. Mas a quem se dirigiu, já que, estrategicamente, optou por generalizar, de modo a que todos ficassem em sentido? Perguntámos a mais de duas dezenas de social-democratas quem é que actualmente estaria a promover ‘guerrinhas’ e a faltar ao respeito aos destacados dirigentes do PSD, mas nenhum dos notáveis conseguiu visualizar alvos incómodos. Mais, mesmo que o líder tenha repetido que toda a gente sabia a quem se dirigia sobrou a convicção que a ânsia de criar fantasmas internos para reforçar a liderança falou mais alto, o que, a um ano de eleições, tem tanto de meritório, pois condiciona atrevimentos que outrora alimentaram candidaturas, como de imprudente, já que dá trunfos aos adversários, se é que existem.

2. O parceiro de coligação do PSD é o que se sabe. Indiferente à vaga de incêndios que assola o País e a alguns enjoos internos, o CDS madeirense foi a Aveiro ver consagrada a alteração estatutária que o reforça no panorama nacional, num congresso de desesperados. A viagem dá umas milhas, mas com tanta terra queimada é intrigante perceber a falta de noção do que é prioritário.

3. Do mesmo mal padecem os socialistas que manifestaram desagradado pela aproximação da família Câmara a Miguel Albuquerque. Isto porque na última feira do gado, nas portas da vila do Porto Moniz Emanuel e Olavo preferiram estar ao lado do Presidente do Governo do que junto da comitiva do PS que, à mesma hora, visitava o recinto. Mesmo que para a fotografia, as opções legítimas de uns colidem de novo com o nervosismo inconsequente de outros e o resultado tem décadas: Sempre que se descuida, o PS perde-se em brigas redutoras.

4. O PS-M vai propor a eliminação da taxa de derrama que incide sobre as empresas com lucro tributável superior a 1,5 milhões de euros. O anúncio foi feito pelo líder, Sérgio Gonçalves que já encheu a ilha de cartazes garantindo uma ‘Madeira Melhor’ como se a notoriedade se conquistasse mais com propaganda do que com trabalho, projecto e equipa. Mas o que fica da arrojada agenda fiscal socialista, bem mais radical do que a dos liberais, é que o PS no seu melhor apresenta como solução para a Região aquilo que chumbou, por exemplo, no Funchal. Dizem-nos que uma coisa não tem a ver com a outra e que para cada concelho há posições diferentes. Os eleitores terão a mesma percepção ou será que as últimas sondagens recebidas revelam dados preocupantes, também eles geradores do desnorte evidente?

Os desvarios podem garantir páginas de jornais, os habituais discursos de ódio nas redes ditas sociais e falatório abundante durante uns dias, mas não fazem nada bem à democracia participativa. Não admira que muitos fiquem atónitos com as recorrentes repressões dentro dos partidos, motivadoras de espanto, mas também de ostracismos e de dissidências.