Faço hoje 80 anos
Fiz muitos trabalhos e publiquei-os no Diário de Noticias a partir de 1969
Nasci ao meio dia de uma Quinta Feira do mês de Julho do ano de 1942 na mais linda “Terra do Norte”, a freguesia do Seixal, concelho do Porto Moniz da Ilha da Madeira e fui batizado na Igreja Matriz de São Vicente, após uma viagem de canoa entre as duas freguesias que quase me ceifava a vida, apenas com um mês de existência. A canoa, ao varar foi apanhada por uma onda e virou. Felizmente a minha mãe sabia nadar a segurou-me, não permitindo que o mar me levasse.
Foram meus padrinhos de batismo um irmão e uma irmã da minha mãe: O Padre Eleutério Caldeira que ministrava o seu múnus em São Martinho e a tia Aurora que vivia com o irmão padre.
Até aos seis anos vivi na freguesia onde nasci e aos sete entrei para a segunda classe, sendo professora a minha mãe na freguesia de São Vicente. No ano anterior o meu pai tinha emigrado para a Venezuela à busca de melhor vida para os seus descendentes, que éramos quatro: Uma irmã, a mais velha de nome Fernanda, mais tarde professora do ensino secundário de então, David, mais tarde engº Químico que se dedicou à economia e é empresário no sector da hotelaria e da saúde e o mais novo, António Alfredo que se dedicou à medicina.
A 3ª e 4ª classe foi feita no Seixal na Escola do Farrobo. O exame da Quarta Classe como de costume foi feito na sede do Concelho, neste caso o Porto Moniz, onde passei com distinção. Nessa altura estavam a construir a estrada entre o Seixal e a Ribeira da Janela o que nos obrigou a fazer este percurso a pé, pelo calhau, saltando de pedra em pedra, depois de esperarmos que a maré esvaziasse. Seguiu-se o Liceu e depois o colégio Nuno Álvares. Depois rumei a Coimbra onde tirei o curso de Regente Agrícola que no ano de 1975 passou a chamar-se de Engº Técnico Agrário.
Dediquei-me à agricultura e pecuária nos 60 anos que exerço a minha profissão, pois o curso que tirei transmitiu-me conhecimentos suficientes para isso. Aliás o curso de Regente Agrícola quando passou a ser designado por Engenharia Técnica Agrária deu origem a sete novos cursos: produção Vegetal, Produção Animal, Enologia e Viticultura, Topografia, Florestal, Produção Alimentar e Horticultura e Fruticultura. Porque aqui podem ver o que tínhamos que aprender no tempo do Curso de Regente Agrícola.
Trabalhei no Instituto Geográfico e Cadastral, primeiro na secção de Avaliação e depois na Conservação do Cadastro. Além disso tive dois “Part Times” em outros organismos públicos e criei uma empresa de comercialização de produtos para a agricultura, com assistência técnica aos agricultores, o que me deu um formação muito prática do que tinha aprendido.
Em 1966 iniciei um programa com a duração de meia hora semanal, dedicado à agricultura, na Estação Rádio da Madeira durante pelo menos oito anos. Fiz também um outro programa na mesma rádio que tinha muita audiência e cujo nome era o Comboio da Noite, de ordem cultural e distribuía prémios pelos seus ouvintes. Uns anos mais tarde fiz primeiro um programa sobre agricultura na então Emissora Nacional com a duração de meia hora semanal mais cinco minutos por dia e depois um programa em direto dedicado fundamentalmente á floricultura e á jardinagem em que os ouvintes ligavam pelo telefone e diziam o tema que queriam que eu falasse ou faziam perguntas, que tinham resposta imediata.
Fiz muitos trabalhos e publiquei-os no Diário de Notícias a partir de 1969, e a memória não me falha. Em janeiro de 1971 aquele periódico publicou uma entrevista comigo que foi muito comentada pela área agrícola, nomeadamente pelo Diretor da Estação Agrária, Engº Gilberto Freitas. Organizei umas conferências sobre o uso dos plásticos na agricultura e publiquei no DN mais de quarenta artigos sobre este tema, depois de ter feito um estágio nas Ilhas Canárias. Mais tarde alguém dizia que eu tinha sido “o pai das estufas na Madeira”. Fiz muitos projetos de estufas, nomeadamente doze mil metros quadrados para a Florialis e outros mais pequenos para quem me procurava e nunca levei um tostão que fosse a ninguém!
Dediquei-me também à jardinagem e fiz muitos projetos e executei alguns nessa área e na da rega gota a gota, aspersão e micro aspersão. Fui o responsável pela produção de forragens no posto Zootécnico da Camacha, onde cheguei a produzir forragens de modo hidropónico.
Colaborei com o Semanário Comércio do Funchal quando reapareceu e também na revista do Sindicato Nacional dos Regentes Agrícolas. Quando me dediquei ao comércio de produtos para a agricultura publiquei uma revista agrícola, gratuita, com informações úteis aos agricultores com periodicidade mensal. Pratiquei alguns desportos representando o Instituto Geográfico e Cadastral como o Voleibol conquistando um 2º lugar a nível Nacional, Atletismo e Ténis de Mesa
Três anos antes de me reformar dediquei-me à plantação de vinha e pouco anos depois dediquei-me à produção de vinho. Mais recentemente produzi o primeiro espumante madeirense que já ganhou oito medalhas, das quais uma de Prestígio (o máximo que se pode ter), três de ouro e três de prata, em concursos internacionais.
Fez ontem um ano que lancei o meu primeiro livro com o título “A Agricultura Madeirense e Eu”, com o apoio da Ordem dos Engenheiros Técnicos.
Ajudei a fundar o Partido Socialista na Madeira, sendo o único fundador vivo e inscrito no partido, fui deputado regional durante dezasseis anos, quatro legislaturas, nunca quis ser deputado à Assembleia da República, apesar de ter sido candidato diversas vezes, mas em lugar não elegível, nem líder do PS/M. O primeiro projeto sobre a Extinção da Colonia teve a minha colaboração, juntamente com o Engº Rui Vieira em 1975 que foi enviado para o então Ministro da Agricultura Engº Lopes Cardoso que o enviou à Junta Governativa da Madeira, que por sua vez optou em deixar para a futura Assembleia Regional da Madeira.
No começo do Século 21 fiz mais de quarenta projetos para a reestruturação das vinhas que permitiram a reconversão de mais de 13 hectares de vinhas, sem que cobrasse qualquer verba aos agricultores, apesar da regulamentação desses projetos pelo IFAP permitisse que fossem pagos e também subsidiados.
Em 2012, depois de violentos incêndios ter lavrado nas nossas serras fiz um trabalho sobre Incêndios Florestais, onde, entre outras coisas exigia para a Madeira a vinda de um helicóptero para atacar os incêndios logo no seu começo, que foi recusado pelo Secretário da Agricultura porque ia contra as ideias do Dr. Alberto João Jardim que não soube se atualizar nesta matéria, mantendo-se na sua ignorância. Claro que também previa a existência de tanques de grandes dimensões nessas serras para abastecer esse dito helicóptero de modo a perder pouco tempo no reabastecimento de água, entre outras coisas, nomeadamente na escolha das plantas a utilizar na reflorestação com resistência ao fogo.
Colaboro com o Diário de Notícias do Funchal há mais de cinquenta anos, com muitos artigos avulso e inicialmente comentando o ano agrícola findo.
Fui condecorado três vezes pela Ordem dos Engenheiros Técnicos: Placa de prata por ter tido uma “Carreira Profissional de Excelência”, Medalha de Prata da Ordem e Medalha de bronze por ter mais de 47 anos de profissão. Fui membro dos órgãos Nacionais e Regionais da Ordem.
Recebi diversos louvores dados pela Câmara do Porto Moniz e respetiva Assembleia Municipal, quer nos mandatos do PPD, quer do PS, principalmente como produtor de vinhos que ajudava a divulgar o nome do Concelho e também da freguesia do Seixal.
Apesar dos meus oitenta anos, continuo disponível para apoiar aqueles que precisam de orientações técnicas na agricultura madeirense, sempre ao mesmo preço: de modo gratuito.
A todos aqueles com quem aprendi muito, quer com os agricultores, quer com outros técnicos, nomeadamente o Engº Agrº Rui Vieira. Bem Hajam.